16 de dezembro de 2012

One Flew Over the Cuckoo's Nest

É sempre difícil ler um livro que deu origem a um filme da minha preferência. Voando Sobre um Ninho de Cucos é um dos melhores filmes para se sentir o pulso dos anos sessenta (a par com o Easy Rider ou o Woodstock) e quais as mudanças que eram necessárias operar nas mentalidades. Sempre adorei o filme e a interpretação de Jack Nicholson, mas tenho que admitir que o livro é muito superior.
Chief Bromden, o índio, supostamente, surdo mudo, narra a história pelo meio das suas alucinações (Bromden é, definitivamente, esquizofrénico), contando como McMurphy vai perturbando as maquinações da Combine (entidade que, na cabeça Bromden, controla toda a humanidade, através de máquinas e seres já alterados, como a enfermeira Ratched) através do seu confronto com a rotina do hospital. McMurphy acredita que o seu tempo encarcerado será mais fácil num hospital psiquiátrico do que num campo de trabalhos forçados mas rapidamente começa a mudar de ideias, principalmente quando descobre que pode ficar internado indefinidamente. Aos poucos o seu espírito livre e indomável entra em rota de colisão com a enfermeira Ratched, que no fundo representa o sistema em que estamos inseridos, e, aos poucos, vai desafiando-a e opondo-se, como pode, ao esquema de humilhação e domínio que o hospital, e em particular Ratched, impõe aos pacientes.
No fim, McMurphy tanto perde como ganha o confronto, numa das mais belas histórias sobre o que é que nos faz realmente livres.

23 de novembro de 2012

The Electric Kool-Aid Acid Test

Tom Wolfe decidiu sair de Nova York e ir até São Francisco para saber exatamente o que andavam a preparar os Merry Pranksters, uma comuna artística psicadélica, cujo o guru era Ken Kesey.
Ken ganhou uma bolsa para um curso de pós graduação em escrita criativa, foi um desportista quase olímpico (uma lesão no ombro impediu-o de ir aos Jogos) e decidiu fazer parte do projeto da C.I.A., MKUltra, em que os voluntários eram expostos às mais mais variadas drogas psicadélicas (L.S.D., D.M.T., etc) por forma a estudar os efeitos das mesmas no ser humano. Apesar da C.I.A. ter como objetivo fazer o Super Soldado (seguindo a ideia alemã), os resultados foram fracos nesse campo, mas serviram bem a C.I.A. na elaboração do seu manual de interrogatório/tortura. Já a Ken, as drogas psicadélicas, serviram para abrir o espírito de tal maneira que este decide arranjar um part time no turno noturno de uma instituição psiquiátrica para observar os pacientes e ter acesso à reserva de L.S.D. do hospital. Desta "visita de estudo" surge a obra prima, Voando Sobre um Ninho de Cucos, (irei falar dele proximamente), que catapulta o jovem Kesey para o estrelato. Kesey compra então uma quinta em La Honda, perto de São Francisco, onde se começam a juntar os seus amigos e mais alguns desconhecidos, formando uma comuna ad hoc em que as pessoas eram encorajadas a expandir a sua mente, especialmente com o uso de L.S.D. O livro também descreve as duas viagens de autocarro (o Further) a Nova York e ao México com Neal Cassady, herói da Beat Generation, ao volante.
Tom Wolfe é um grande artista porque consegue com a sua escrita toda a loucura e desconexão de uma trip de ácido, mas ao mesmo tempo manter o leitor na história através de um fio condutor que deve tudo ao jornalismo, como uma crónica dos eventos de um manicómio. A escrita de Tom Wolfe faz-me lembrar o Gonzo Journalism de um contemporâneo seu, Hunter S. Thompson. Um grande livro em que mostra a ascensão e queda do movimento hippie, vista por dentro.

8 de novembro de 2012

Kindle

Este post é um bocadinho diferente dos outros. Adquiri um Kindle da Amazon e, apesar de achar que nada substitui o cheiro da cola de um livro novo, estou rendido! Que aparelho fantástico! Do tamanho de um livro de bolso (dos ingleses) e mais leve que a grande maioria (apenas cento e setenta gramas!!!) é muito fácil usar o Kindle em uma só mão. Com os botões de mudança de página convenientemente localizados para serem acedidos com os polegares (tanto para destros como para canhotos) até em andamento é fácil de usar.
Mas o mais importante é o écran E-Ink Pearl. Nunca vi nada tão parecido com o papel. Apesar de achar que não aguento oito horas a ler o Kindle como aguento a ler um livro, o cansaço é mínimo e a fonte totalmente escalável o que permite pessoas com dificuldades de leitura encontrar o tamanho de letra adequado.
Por último, qualquer título que esteja em PDF pode ser lido no Kindle. Basta enviar um E-mail para um endereço específico, oferecido pela Amazon, com o PDF como anexo. Quando o PDF estiver convertido para o formato Kindle, este é enviado automaticamente para o nosso aparelho, se este estiver ao pé de um spot Wi-Fi. O Kindle também permite trocar de livros entre os que estão no aparelho e os que estão no espaço na Nuvem oferecido pela Amazon sem qualquer problema, aumentando efetivamente o número máximo de livros que se podem transportar (que só no Kindle são cerca de 1400).
Resumindo: uma ótima prenda de natal para uma pessoa que gosta de ler em qualquer lado, como eu.

8 de outubro de 2012

Time Out Rome

Bendito Time Out. Já para Barcelona tinha escolhido o livro desta série e ainda bem que o voltei a fazer. É que além de a informação estar toda certa e os mapas serem bem legíveis, a organização do livro está perfeita. Roma foi dividida por zonas históricas e cada uma delas tem entradas com os pontos de interesse. Até aqui tudo normal, igual a tantos outros guias. O que me agradou especialmente foram as dicas dadas pelos autores dos textos. Por exemplo: "não compre o bilhete no Coliseu que as filas são muito grandes, compre na entrada do Palatino, que não tem lá ninguém e o bilhete dá depois para o Coliseu" ou então "marque a entrada do Museu do Vaticano para quarta feira às 10:00 que é a altura que o Papa esta a falar na Praça de S. Pedro".
O resultado foi poupar umas horas valentes em filas. No Vaticano podia ter chegado lá sem bilhete (cheguei às 10:30) que não demorava mais de vinte minutos. No Coliseu foi só entrar, enquanto que o resto do povo esperava uma boa horinha.
Recomendo a todos os guias Time Out. São "da cena" sem serem demasiado "freakolé".

21 de agosto de 2012

O Padrinho

A trilogia "The Godfather", de  Coppola, é uma das obras primas do cinema. Quando comecei a ler o livro estava com receio que, de alguma forma, o filme perdesse um pouco do seu brilho. Estava totalmente enganado uma vez que o filme é fiel ao livro, com uma precisão de detalhe incrível. Para isso contribuiu, sem dúvida, a participação de Puzo na elaboração com Coppola da adaptação do argumento.
Claro que no livro algumas personagens são mais desenvolvidas e assim aparecem pequenas side stories, não incluídas no filme, que dão ainda mais riqueza a todo o universo de Puzo.
Puzo é um excelente escritor, com um sentido de ritmo fantástico, que nos conduz pela história de uma família emigrante na América. Se mudarmos o nome Corleone para Rockefeller, ou outro qualquer, acabamos por verificar que este livro não conta a história de uma família mafiosa mas sim a história da América com o seus fluxos de imigrantes (Italianos, Irlandeses, Polacos, Russos, Hispânicos, etc) que fazem a grandeza da América (apesar de serem sempre perseguidos e humilhados).
Um excelente livro para se ler nas férias (li em dois dias apenas), mesmo que não se goste da temática dos gangsters, porque se fica a conhecer, mais um pouco, como foi construido esse grande país (NOT!!!), os Estados Unidos.

14 de agosto de 2012

The Shock Doctrine

Naomi Klein tem as suas origens numa família com pedigree activista: os pais mudaram-se para o Canadá em 67, por causa das suas convicções contra a guerra do Vietname. A mãe faz documentários e o pai é médico membro da Physicians for Social Responsibility, uma organização médica que se dedica a alertar e esclarecer o grande público acerca dos efeitos nocivos do nuclear e das toxinas no corpo humano. Já os avós paternos tinham-se oposto ao pacto Molotov-Ribbentrop e abandonado o comunismo em 1956. O avô paterno, durante a greve dos animadores da Disney, foi despedido e viu-se forçado a trabalhar na estiva.
Apesar de toda esta genealogia de esquerda (ou talvez por isso mesmo), Klein passou os seus anos de adolescente fechada em centros comerciais, obcecada com roupas de marca. Sentia-se mal por ter uma mãe tão publicamente feminista.
A sua consciência política foi despertada por dois eventos: a doença grave de sua mãe aos 17 e um massacre contra estudantes femininas na École Polytechnique, em Montreal.
Mas agora o livro. Klein começa por introduzir duas personagens: Milton Friedman , um economista, e Ewen Cameron, um médico psiquiatra.
O que é que têm em comum um economista e um psiquiatra?
Ewen Cameron é famoso pela sua participação no projeto da CIA, MK-ULTRA, no qual se estudava como alterar o comportamento do ser humano, usando recursos como as drogas (sobretudo LSD), privação sensorial, violações verbais e físicas e, sobretudo, tortura. Cameron achava que se devia "limpar" a mente de um paciente com problemas (às vezes tão simples como uma depressão pós-parto) para poder começar de novo. Como tal é impossível, Cameron aplicou os tratamentos com mais intensidade, com especial ênfase para os electrochoques, o seu favorito, em alguns pacientes com voltagens quarenta vezes superiores aos valores máximos recomendados por outros médicos da altura. Apesar de falhar com todos os seus pacientes, deixando-os a todos pior do que estavam antes dos tratamentos (alguns pacientes regrediram ao ponto de confundirem os médicos com os pais ou não serem capazes de fazer as suas necessidades fisiológicas), a C.I.A. utilizou os seus estudos para elaborar o seu programa de tortura psicológica de dois estágios (que consistia basicamente em primeiro desorientar o interrogado com privação de sono e/ou sensorial e também com humilhação de cariz sexual. Assim que o indivíduo está desorientado passa-se a submetê-lo a danos autoinfligidos, como por exemplo manter os braços elevados durante muito tempo, por forma a que o individuo transfira a culpa do seu sofrimento para si e fique mais receptivo ao interrogador uma vez que este pode acabar com as suas dores - muito mais bem explicado aqui), ainda há bem pouco tempo usado no Iraque. É interessante ver a ligação entre este livro e o Homens Que Matam Cabras só com o Olhar.
Milton Friedman foi um Nobel da Economia proeminente da Escola de Chicago que, nos anos cinquenta (por oposição aos Keynesianos que advogavam que o estado deve intervir na economia, escola predominante no Estados Unidos da Grande Depressão até 1973), diz que o Estado deve ter uma intervenção mínima na economia, privatizando sectores como a Educação, Saúde e grande parte do Exército. Resumindo, a única função do Estado deverá ser "(...) to protect our freedom both from enemies outside our gates and from our fellow-citizens: to preserve law and order, to enforce private contracts, to foster competitive markets" ("(...) proteger a nossa liberdade tanto dos inimigos externos como dos nossos concidadãos: preservar a lei e a ordem, garantir os contratos privados e fomentar mercados competitivos").
Estávamos no pico da Guerra Fria e esta teoria era o oposto do Comunismo vigente na altura, em que o Estado controlava tudo.
O pior é que os Poderes Económicos viram nesta teoria a maneira ideal de redireccionar os capitais que o Estado gasta na Saúde, Educação, Exército, Saneamento e vários serviços normalmente à disposição do cidadão, para os seus bolsos. Só existe um problema: o Povo. A aplicação prática desta teoria implica a perda de quase todos os direitos e regalias conquistadas, algumas à custa de sangue, pelos cidadãos.
Solução de Friedman? Os países e os povos tem que ser submetidos a um "shock treatment" ("tratamento de choque") social e económico para criar um "blank state" (alguma semelhança com os tratamentos do Ewen Cameron é pura coincidência... NOT!!!). O primeiro local em que foi experimentado este tratamento de choque? No cone sul-americano, claro está, com o apoio dos Estados Unidos às juntas militares ditatoriais, com início no Chile com o derrube de Salvador Allende por Pinochet. E quem eram os amigos económicos de Pinochet? Os Chicago Boys, claro, com Friedman à cabeça, que foi pessoalmente aconselhar Pinochet sobre como implementar as suas ideias de "mercado livre". O resultado foi uma ditadura militar que durou de 1973 a 1990.
A Escola de Chicago não ficou por aí. Brasil, Argentina, Bolívia, Estados Unidos (com Reagan), Reino Unido (com Thatcher), Polónia, Rússia, Iraque, Afeganistão, Malásia, China (o evento na Praça Tian'anmen aconteceu exactamente quando o Comité Central estava a aplicar as medidas de Friedman que, meses antes, tinha visitado a China), Nova Orleães e Sri Lanka.
Claro que, com o passar dos anos, os métodos de implementação foram-se alterando à medida que os direitos humanos iam revelando as atrocidades cometidas nos países sob o jugo dos ditadores. Alguns exemplos:
No caso do Iraque (um dos países árabes mais desenvolvidos, com maior grau de instrução) invadiram, destruíram e depois emprestaram dinheiro para a reconstrução com a condição de o Estado iraquiano alienar todo o seu património (leia-se petróleo), implementar um sistema de taxa de imposto única (15%) e abrir as portas ao investimento estrangeiro. No caso da Rússia correu um pouco mal para os investidores estrangeiros porque os oligarcas russos ficaram com tudo para eles (o mesmo se passou na China). No caso de Nova Orleães (uma das regiões mais pobres do Estados Unidos) foi preciso o furacão Katrina deixar os cidadãos em estado de choque para o governo americano poder acabar com o ensino público (conselho dado pelo próprio Friedman na última publicação em vida). No Sri Lanka, após o Tsunami que abalou a Ásia, o FMI exigiu, para emprestar dinheiro, que as praias fossem vendidas às grandes cadeias de hotéis de luxo, vedando o acesso às praias à população de pescadores desalojadas. Quando os pescadores saíram do choque do Tsunami, os seus locais de nascimento, as suas raízes, estavam vedados e com guardas armados.
Friedman disse que, no evento de uma crise, real ou percecionada, bastava as suas ideias estarem "perdidas pelo chão" para estas serem "apanhadas". O facto de o FMI e o Banco Mundial estarem cheios de ex-alunos seus ajuda a forçar as medidas quando os países estão mais fragilizados e o povo mais desatento devido a problemas mais graves e prementes.
Os casos de Portugal, Grécia, Espanha, Itália, não vos fazem lembrar nada? Primeiro as agências de rating (americanas e cheias de Friedmanites) dizem que os países não valem nada (crise verdadeira ou percecionada?) e depois o FMI empresta dinheiro sob condições draconianas que implicam a destruição de todo o património do estado e do estado social.
Resumindo, Klein diz que "(...) what we have been living for three decades is frontier capitalism, with the frontier constantly shifting location from crisis to crisis, moving on as soon as the law catches up (...)" ("(...) o que temos vivido nas últimas três décadas é um capitalismo de fronteira, com a fronteira a ser constantemente mudada de uma crise para outra, partindo assim que a Lei chega (...)") e que "(...) Under Chicago School economics, the state acts as the colonial frontier, which corporate conquistadors pillage with the same ruthless determination and energy as their predecessors showed when they hauled home the gold and silver of the Andes (...)" ("(...) Segundo a teoria económica da Escola de Chicago, o Estado age como a fronteira colonial, em que as Corporações Conquistadoras pilham com a mesma implacável determinação e energia que os seus predecessores mostraram quando rapinaram o ouro e a prata dos Andes (...)").
Por favor abram os olhos!!!

4 de agosto de 2012

Dia D

Que seca. Não me interpretem mal: até li bem depressa este calhamaço de seiscentas e cinco páginas e uns trocos. Mas o conteúdo, que maçudo... O Montgomery isto, Patton aquilo. As intrigazinhas de poder entre ingleses e americanos, exércitos e força aérea e os homens a morrerem no terreno. Quero lá saber que a "1ª Divisão Blindada polaca recebeu ordens para avançar sobre Chambois" ou que "a 90ª Divisão americana, (...) teve uma desagradável surpresa quando a divisão Das Reich e o que restava da 17ª Divisão Panzergrenadier SS atacou subitamente (...)".
Antony Beevor até faz um bom trabalho ao disfarçar uma série de dados fastidioso com histórias pessoais de soldados, algumas bem tocantes como "(...) ele gritou por um médico. Um homem do corpo médico avançou rapidamente para o ajudar e também foi alvejado. O socorrista ficou junto ao soldado e ambos ficaram a gritar até morrerem (...)" ou "(...) por outras palavras, nós éramos suficientemente bons para ficar dentro do cerco. As SS olham pelos seus (...)".
Tanto quanto eu posso afirmar o conteúdo é correcto (não sendo uma autoridade) mas eu prefiro um livro sobre o que se passou com os soldados no terreno a um livro histórico sobre os macro acontecimentos.

3 de agosto de 2012

Guevara - Antologia

A primeira vez que li este livro tinha uns dezassete anos e tenho que admitir que achei muito mais piada na altura.
O Comunismo não é resposta. Tem que haver outra solução de esquerda porque senão estamos lixados. Por exemplo, no texto "O exemplo cubano: caso excepcional ou vanguarda da luta contra o imperialismo", Guevara começa por elogiar Fidel Castro, pessoa que transformou a Revolução Cubana numa ditadura do proletariado. A seguir refere o desejo do campesinato de uma reforma agrária que lhe permitisse possuir um pouco de terra e destruísse os latifúndios... Bem agora já não há campesinato porque ninguém quer vergar a mola no campo. Ou ainda que "(...) nos parece improvável é que as forças armadas aceitem profundas reformas sociais (...)"... A nossa revolução provou o contrário.
O que mais me interessou foi o capítulo "A guerra de guerrilha", um manual prático, criado a partir das suas experiências, mas, infelizmente, é composto apenas por excertos.
Qualquer das formas tiro o chapéu aos autores da selecção e tradução (Adriano de Carvalho e João Bernardo) e ao editor (da Novo Rumo) por lançarem este livro em plena ditadura, no ano de mil, novecentos e sessenta e sete.
Guevara presidiu vários tribunais revolucionários e com isso manchou a sua imagem com várias penas de morte, talvez escusadas, em nome do povo e da revolução. Mas o seu coração era bem intencionado e por isso pagou com a vida.

27 de julho de 2012

Street Art

O meu amigo Carlos emprestou-me este livro para eu tentar entender um pouco mais do que se passa nas paredes de Lisboa e do mundo. Devo dizer que aprendi muita coisa e, principalmente, fiquei a conhecer os nomes e as obras mais significativas dos artistas mais conceituados do meio. O problema é que, como em todos os livros teóricos sobre a arte, a linguagem usada, apesar de simples e bem escrita, é demasiado críptica e orientada para quem já tem bastantes conceitos sobre estética e história da arte. Como bom ensaio que é tem tudo: enquadramento histórico, os primórdios do movimento e os diversos degraus que a Street Art foi subindo até chegar ao que é hoje. Imaginem uma tese de doutoramento traduzida para o comum dos mortais mas por alguém que nunca escreveu nada para o comum dos mortais. Estão a ver?
Penso que é um bom livro (eu gostei de ler) mas que exige que o leitor já saiba bastante da definição do conceito de Arte. Como o meu conceito de Arte não passa de "gosto, não gosto", fiquei de fora de muitas das ideias e dos conceitos que o autor escreve.

8 de junho de 2012

Inferno, Ida e Volta

Frank Miller volta à carga com o sétimo volume da série Sin City, "Inferno, Ida e Volta", e tenho a dizer que já estou um pouco farto. Não do grafismo, que o traço de Miller está cada vez melhor e a dinâmica do livro é perfeita: o leitor abranda ou acelera a leitura ao gosto do autor. O que me aborrece é a história policial noir de cordel, em que Wallace, o herói (neste caso um artista pintor mas também ex-militar), evita que uma jovem linda cometa suicídio. A jovem tem problemas com uns senhores muito maus e o herói limpa o cebo a todos, fugindo no fim com a "princesa". O que é apenas uma repetição do "A Cidade do Pecado" mas sem o twist de a personagem principal morrer, o que é muito mais divertido. E, sinceramente, prefiro o método do Marv para obter aquilo que quer.
Um apontamento curioso são as 26 páginas a cores, onde é descrito a luta de Wallace com uma droga alucinogénica, injectada pelos maus da fita, para se manter na investigação que o há-de levar à boazona de serviço.
Tenho pena que o argumento seja tão gasto (até dentro da própria série) porque o grafismo é superlativo.

2 de junho de 2012

Autoimóvel

Quando me perguntaram se eu conhecia os Zits eu disse algo como "quem?", mas depois de ver a capa reconheci-os imediatamente, uma vez que já perdi largos minutos em livrarias a folhear os diversos livros da coleção. Por recomendação e por empréstimo, li este Autoimóvel e gostei bastante.
A maior força e a maior fraqueza deste livro reside no facto de as piadas serem muito dependentes da época em que vivemos.
Força, porque aponta, de forma acutilante, muitos dos problemas que as famílias de agora sofrem com os filhos adolescentes. Os pais Ducan, apesar de tentarem e até terem boas intenções, cometem erros típicos desta geração de pais de agora. A título de exemplo:
Fraqueza, porque, como muitas das tiras da Mafalda, assim que o contexto histórico desaparecer, a maioria das pranchas perde a sua força. Neste aspecto, o Calvin & Hobbes é muito mais intemporal.
No todo é um livro muito divertido e cómico mas que com o passar dos anos irá perder a sua força.

22 de abril de 2012

Homens Que Matam Cabras só com o Olhar

Jon Ronson é um jornalista galês que decidiu investigar as explorações que o exército americano fez no campo da New Age e do paranormal, no fim dos anos 70, início dos 80. Até aqui tudo (mais ou menos) bem... Não é de agora que os grandes exércitos, na sua procura do super soldado, "apelam" para poderes superiores. Já Hitler tinha uma divisão que estudava o paranormal (mas também novos métodos para exterminar, extirpar, torturar, humilhar todos os opositores e mais alguns) para tentar desencantar uma vantagem sobre o adversário.
No fim do trauma do Vietname as forças armadas americanas estavam deprimidas, quer humanamente, quer como instituição. Era necessário fazer algo que, por um lado, devolvesse o amor próprio ao militar americano e que, por outro, tornasse os Estados Unidos na super potência que parecia ser, mas que falhou demonstrar no terreno do Vietname.
Estão assim abertas as portas para que a insanidade se instale.
LTC Jim Channon (para quem não sabe LTC quer dizer Lieutenant Colonel - Tenente Coronel... bastante alto na cadeia, pode-se dizer), ao sair de um helicóptero em pleno combate, verifica que os seus homens, todos novatos, falham propositadamente o alvo a abater (no caso, uma mulher vietcong altamente motivada). Devido a essa ineficácia, Channon, é baleado no peito e, nesse momento, tem uma epifania. Se os soldados sentem uma força dentro deles que os impede de matar, porque não usar essa força para benefício do Grande Exército Americano? Com estes argumentos, Jim Channon, convence o Estado Maior a pagar-lhe uma "visita de estudo" a todos os movimentos New Age que a costa Oeste dos Estados Unidos produziu. Se somarmos a isto todas as drogas possíveis e imagináveis, o que obtemos é o First Earth Battalion (juro que não estou a brincar), completo com um manual de 125 páginas! Eu não consigo sequer começar a descrever as coisas que eles tentaram (há um dos soldados que afirma que matou uma cabra só de olhar para ela, daí o título do livro) mas o que é facto é que alguns dos procedimentos do manual foram usadas na guerra do golfo, pelo Bush, como forma de torturar pobres desgraçados...
Resumindo: um livro obrigatório! Hunter S. Thomson diria: "Pure Gonzo Journalism"!
O porquê do Bush ter usado no Iraque tais técnicas de tortura é tema para o meu próximo livro, The Shock Doctrine, uma autêntica bomba!!!

29 de março de 2012

Supercarros

Este fim de semana que passou prestei um pouco mais de atenção a este livro que parava lá por casa. Devo dizer que achei engraçado mas pouco mais. A informação que é oferecida é de boa qualidade, com uma dupla página com fotos e textos sobre a história de um determinado veículo e depois outra página dupla com cinco perspectivas, conforme a imagem em baixo, mais alguns pontos fortes do veículo e uma ficha técnica com aqueles números que só os fanáticos dos carros sabem o que significa. Até aqui tudo bem. O problema é que o livro, para além de estar desatualizado (nota-se a falta de alguns carros mais modernos), tem demasiados carros americanos. Se é verdade que em quantidade os americanos batem-se bem, também é verdade que em performance e design os europeus (e até os japoneses) estão milhares de anos à frente... basta por lado a lado, por exemplo, o Ferrari Enzo com o Dodge Vipper. Há comparação? Enfim um livro para oferecer a um iniciado automóvel.
O meu belo Miura

22 de março de 2012

As Aventuras de Huckleberry Finn

"As Aventuras de Huckleberry Finn" é a sequela de "As Aventuras de Tom Sawyer". Twain muda de estilo, narrando a história na primeira pessoa através da voz de Huck. Após o final do livro anterior, a Viúva Douglas decide tomar conta de Huck e "civilizá-lo". Passado pouco tempo, Huck começa a sentir desconforto no aperto das roupas finas e o constrangimento das regras da sociedade. Quando escapa da Viúva, cai nas garras do Pai, o bêbado da aldeia. Após variadíssimos abusos, Huck decide fugir novamente mas de vez. Nas peripécias da fuga acaba por escapar com o Negro Jim. Como escravo em fuga, Jim fica com a cabeça a prémio (300 dólares - uma pequena fortuna, à época).
A acção desenrola-se pelo Mississippi abaixo, por mais de onze mil milhas, permitindo a Twain mostrar as vidas e os costumes do Sul esclavagista moderado (nenhum negro é chicoteado nesta história e, como sempre, as coisas correm bem da maneira mais mirabolante possível). No fim Huck torna-se amigo de Jim, contra tudo aquilo que aprendeu na sua educação.
Apesar do livro ser divertido e de fácil leitura, tenho alguns reparos a fazer:

Primeiro, o fim é um pouco atabalhoado. Merecia talvez mais um capítulo ou dois. Segundo, acho que esta tradução não é a melhor. No início o tradutor informa o leitor que grande parte do texto é escrito em vários dialectos e como tal algumas coisas se perderam na tradução e depois aparecem no texto pérolas como "intelequetual" ou "matrial". Fiquei sem perceber se eram apenas erros tipográficos ou tentativas péssimas de fazer uma transposição para a língua portuguesa do dialecto que a personagem está falar no momento.
Por último quero agradecer muito, muito, muito à Tatiana por realmente prestar atenção ao que as pessoas dizem. Estou muito contente por te ter conhecido.

1 de março de 2012

As Aventuras de Tom Sawyer

É muito difícil escolher um livro para mim, a minha mãe que o diga que já repetiu uns quantos. Quando a minha amiga Ana ofereceu-me este clássico, ela ficou quase tão contente como eu, por ter acertado num livro que eu ainda não tivesse lido.
Ao princípio achava que este Samuel Langhorne Clemens (Marc Twain para os amigos) ia ser uma seca, super descritivo, como os nossos românticos, os vitorianos ingleses ou o Jules Verne. Não podia estar mais enganado. Twain escreve simples e tem a mestria de, com muito poucas palavras, dizer tudo o que quer e invocar imagens muito bonitas da vida nas margens do Mississippi na mente do leitor.
Cada capítulo, apesar de inseridos numa história maior, pode ser lido separadamente e conseguirá fazer sorrir o mais mal humorado dos velhos dos Marretas.
Tom é o rapaz típico: adora a liberdade e odeia a escola. Isso aliado ao facto de viver junto das margens do Mississippi onde há imensas actividades interessantes como pescar, procurar um tesouro, dormir ao relento, explorar grutas, namorar ou tomar banho no rio tornam a vida da Tia Polly (a senhora que cuida de Tom e de seu meio irmão, Sid) muito mas muito difícil. As brincadeiras e tropelias de Tom fazem-me lembrar as que eu fazia em Monte Real quando era miúdo e se não fiz disparates iguais pelo menos fiz parecidos. Aliás quem as não fez? E quem não fez tenho pena, devem ter tido uma infância muito chata...

22 de fevereiro de 2012

The Chasm of Doom - Lone Wolf

A sul de Holmgard fica a província mineira de Ruanon, principal fonte de riqueza do reino. O ouro e as pedras preciosas são transportados, mensalmente, em carroças até à capital, Holmgard, mas no mês corrente o comboio já está atrasado. O Rei Ulnar enviou cem cavaleiros às ordens do Capitão D'Val para investigar o silêncio de Ruanon e o paradeiro do comboio mas estes também desapareceram sem deixar rasto. Não restou outra opção ao Rei senão chamar Lone Wolf do mosteiro Kai (o Rei colocou as terras nas imediações do mosteiro sobre a protecção de Lone Wolf) para resolver o problema. Em conjunto com 50 homens, Lone Wolf parte para o sul, para aquilo que parece ser uma simples missão contra bandidos, mas que acaba por representar a salvação do reino. Ruanon foi subjugada por Barraka, senhor da guerra do reino vizinho da Vassagonia, e a filha do Barão Vanalund, Madelon, foi raptada para ser sacrificada no altar de Maakengorge, para que o exército morto do Darklord Vashna suba dos infernos para vingar a sua derrota perante a casa de Ulnar. Sem Lone Wolf tudo estará perdido.
Como complemento, a pequena história do Capitão D'Val e dos seus homens ajuda a dar mais riqueza a um universo já por si repleto de pormenores. Sem dúvida um livro a ler por quem gosta de fantasia.

10 de fevereiro de 2012

Crimes Exemplares

Quando uma grande amiga me aconselhou a ler este pequeno livro, fiquei imensamente desiludido de ter que lhe dizer que já o tinha em casa. Prometi-lhe que ia reler e em boa hora o fiz porque esta obra é pura e simplesmente genial. Max Aub, filho de um Alemão e de uma Judia Francesa, teve uma vida atribulada em Espanha, durante a guerra civil, e em França, durante a segunda grande guerra, o que o fez radicar-se com a sua família no México, onde conheceu Luis Buñuel, entre outros. Ao longo do seu percurso de vida foi recolhendo relatos de homicídios perpetrados em grande maioria por gente "normal". Donas de casa, barbeiros, utentes de transportes públicos, pacientes, médicos, todos caminham à beira do abismo, a um simples passo da desgraça. "Matei-o porque tinha mais força do que eu" e "Matei-o porque tinha mais força do que ele" revela uma espécie humana com grandes dificuldades na comunicação, sem conseguir gerir o stress de forma adequada. Assusta-me a crise porque é um factor de stress muito forte e as pessoas estão perto do limite ("Don't push me 'cause i'm close to the edge, i'm trying not to loose my head"). Como sempre, a Antígona a não desiludir com este livro. E para terminar, o meu favorito: "Matei-o porque não pensava como eu"!!!

7 de janeiro de 2012

The Caverns of Kalte - Lone Wolf

The Caverns of Kalte leva Lone Wolf aos gelos do norte em perseguição de Vonotar, o mágico traidor que ajudou os Darklords of Helgedad a destruírem o Mosteiro Kai e a quase conquistarem Sommerlund. Neste livro a natureza é a principal inimiga até que o nosso herói chega a Fortaleza de Gelo, local onde Vonotar se escondeu (com a ajuda forçada de Loi-Kymar) da ira dos Darklords, uma vez que estes não admitem falhas e Vonotar falhou na conquista de Sommerlund. Vonotar também controla, através de magia, os ferozes bárbaros do gelo, para dificultar ainda mais a arriscada missão do Lone Wolf mas, com as escolhas acertadas, esta aventura faz-se até ao fim quase sem combate.
Como complemento, a pequena aventura "Vonotar's Web" conta a história de como Loi-Kymar foi forçado a ajudar Vonotar a teleportar-se para a Fortaleza de Gelo.