26 de dezembro de 2011

Vício Intrínseco

Imaginem um L.A. Confidential com conspiração, CIA e um círculo de tráfico de heroína para financiar operações menos recomendáveis, mas em vez dos polícias durões e corruptos do Confidential, temos um detective privado hippie e pot head arrastado para uma história, talvez demais para a sua camioneta, por uma ex-namorada que se meteu com as pessoas erradas. Junte-se a isto um advogado, também pot head, um saxofonista heroinomano, um milionário que tem um súbito ataque de consciência e uma escuna com o nome de Golden Fang e o resultado é um livro fantástico.
Pynchon brinca com o estilo do policial negro dos anos 50, adaptando-o ao fim dos anos 60, com toda a loucura que isso implica. Desde a enumeração de todos os tipos de erva disponíveis na costa Oeste dos Estados Unidos até aos melhores locais de L.A. para matar a ressaca do fumo (comer) por noventa e nove cêntimos, tudo cabe neste romance. Sportello (o herói da história) consegue desfiar a trama do caso durante uma trip de LSD, qual Sherlock Holmes envolto nos seus fumos de ópio.
Estilo e escrita irrepreensível fazem da leitura deste livro o prazer enorme que não posso deixar de aconselhar a todos.

16 de novembro de 2011

Fire On The Water - Lone Wolf

O início da guerra, com o massacre dos discípulos Kai, deixou o reino de Sommerlund bastante inferiorizado em relação aos exércitos do Darklord Zagarna que avança, imparável, até à capital, Holmgard. A esperança de salvação reside na Sommerswerd, espada encantada que só pode ser empunhada por um discípulo de Kai e que se encontra à guarda do Rei Alin IV, soberano de Durenor (país vizinho e aliado). O Rei Ulnar V, desesperado, pede a Lobo Solitário que convoque os seus antigos aliados para a guerra e que traga a Sommerlund para derrotar o mal que assola o país. Para tal, entrega-lhe o Selo de Hammerdal, penhor da aliança que Durenor tem com Sommerlund. Ulnar avisa também Lobo Solitário que Holmgard não conseguirá resistir a um cerco mais de quarenta dias. A hora é grave.
Assim começa mais uma aventura para o jovem Kai. Pelo caminho, muitas peripécias, alguns combates, novos aliados e um inimigo poderoso, perfazem os ingredientes para mais um óptimo livro que apesar de não ser bem para a minha idade é bem escrito e com um ritmo excelente, apesar de ser por secções (no fim de um ou dois parágrafos o texto pergunta ao leitor o que quer fazer: "se quiser ir para sul vá para o 250, se quiser ir para norte vá para o 35") e como bónus a aventura do Cavaleiro Rhygar (um dos aliados de Lobo Solitário) na sua busca pela coroa do Rei Alin dois anos antes desta aventura. Adoro a colecção e já estou a ler o próximo, The Caverns of Kalte.

Flight From the Dark - Lone Wolf

Capa da nova edição,
Collector's Edition
Há muito tempo atrás, ainda estávamos no século passado, por volta do ano de 1990, a minha mãe ofereceu-me um pequeno livro chamado "O Fugitivo das Trevas". Foi o primeiro Livro/Jogo que recebi (sendo que os outros que li/fiz faziam parte da coleção Aventura Fantástica da Verbo) e também o primeiro contacto com os RPG (Role Playing Game). Rapidamente fiquei viciado. Com uma mecânica de jogo extremamente simples (o texto está dividido em entradas e no fim de cada uma das entradas tem opções para o leitor/jogador escolher, como por exemplo, "If you wish to enter this tavern, turn to 4; If you decide to continue on your way along the street, turn to 83". Tem também um sistema de combate, várias disciplinas Kai para aprender e objetos que podem a vir a ser úteis noutros livros. Por último, todos os volumes da coleção fazem parte de uma única campanha, com o mesmo herói, que assim vai melhorando as suas capacidades levando quem lê a afeiçoar-se cada vez mais à personagem) o leitor progride pela história a grande velocidade (li este volume em três dias) sempre desejando saber mais acerca do que nos vai acontecer.
Capa original,
edição portuguesa

Neste livro fazemos o papel de Lobo Silencioso, um jovem iniciado no mosteiro de Kai (um mosteiro em que se ensinam artes marciais), que tem o azar de presenciar a chacina de todos os membros sua Ordem. Apesar de muito novo e ainda pouco versado nas disciplinas Kai, o agora Lobo Solitário (visto ser o único sobrevivente da ordem) decide vingar os seus companheiros e seguir até à capital de Sommerlund, Holmgard, avisar o Rei Ulnar V, de que os Darklords de Helgedad voltaram e conseguiram destruir toda a Ordem de Kai.
Joe Dever atualizou o texto para esta nova edição que conta também com novas ilustrações (apesar de eu preferir as originais de Gary Chalk). Recomendo este livro a todos os que gostam de fantasia e que querem aprender inglês (Joe Dever escreve de forma muito simples), uma vez que as traduções portuguesas já não estão disponíveis no mercado. Para quem não quer gastar dinheiro (cada livro custa à volta de dez libras) fica aqui o site do Project Aon que contém todos os textos e desenhos da primeira edição para ler na net ou para download.

14 de novembro de 2011

As Sagradas Escrituras - As Aventuras de Deus e do Menino Jesus

"Ó Deus, como eu te detesto por não existires". Assim começa esta paródia às sagradas escrituras, tal e qual como Ele as ditou a Cavanna, escritor e desenhador cómico francês, que se deu ao trabalho de ler a Bíblia e de compilar uma série de absurdos, contradições e partes gagas, desculpem-me o termo, que este livro milenar contém. Devo confessar que, quando li o livro por volta dos 17, achei muito mais piada do que agora, mas mesmo assim há tiradas ótimas que fazem rir qualquer um, expecto os católicos (e já agora os judeus) com pouco espírito desportivo. Pérolas como "Para se saber que se é Deus é preciso ser-se dois: um que é Deus e outro que lhe diz «Meu Deus»", "Deus Cria o homem. O homem porta-se como um porco. Deus fica desiludido, mas não se aborrece" ou, acerca da virgindade de Maria, "Mas alguns, cujo coração estava pervertido disseram que talvez fosse resultado de coito contranatura que o Eterno colocou entre o orifício excremental e a porta das bênçãos. O mundo é tão mau" povoam este livro, escrito ao modo das escrituras, arrancam gargalhadas do leitor incauto e apontam para as muitas incongruências dos escritos sagrados.
Enfim, um livro divertido mas que nada trás de novo a quem já tenha lido as escrituras com um olho crítico.

10 de novembro de 2011

Fear and Loathing in Las Vegas: A Savage Journey to the Heart of the American Dream

Quem me conhece sabe que o "Delírio em Las Vegas" é um dos meus filmes favoritos e, provavelmente, já o viu em minha casa umas quantas vezes.
Assim, nada mais natural que ler o livro também.
Thompson mudou-se para para São Francisco em 1965, e esteve na crista da Big Acid Wave, em conjunto com nomes como Ken Kesey, Jefferson Airplane ou  Owsley "The Cook" Stanley, e quando o Summer of Love atingiu São Francisco, Thompson já era um jornalista experiente, com várias publicações espalhadas por vários jornais dos Estados Unidos e da América Latina e dois romances de ficção (não publicados na altura) na bagagem.
Thompson começa a obter notoriedade nacional com um artigo no jornal The Nation sobre os Hell's Angels, após o qual recebe vários convites para escrever um livro. Passado um ano a viver com o grupo e alguns dissabores (Thompson foi espancado por membros do gangue) o seu primeiro livro, Hell's Angels: The Strange and Terrible Saga of the Outlaw Motorcycle Gangs, foi publicado. Esta foi a primeira incursão de Thompson na não ficção e o seu primeiro sucesso literário. A partir daqui sucedem-se colaborações em publicações de renome como New York Times Magazine ou a Esquire, e Thompson começa a interessar-se pelo tema principal deste Fear and Loathing in Las Vegas: a morte do American Dream.
Em 1970 Thompson escreve, por encomenda, The Kentucky Derby Is Decadent and Depraved, peça desportiva sobre o Kentucky Derby, no qual Thompson se preocupa mais com o ambiente decadente do Derby do que propriamente com os resultados desportivos (Thompson não conseguia ver as corridas do seu local de observação). A peça é ilustrada por Ralph Steadman, que o acompanha ao derby, numa primeira de muitas colaborações na carreira de ambos.
Thompson e Acosta
Del Toro e Depp
Em 1971, Thompson junta-se a Oscar Zeta Acosta ("One of God's own prototypes. A high-powered mutant of some kind never even considered for mass production. Too weird to live, and too rare to die" nas palavras de Thompson) para recolher informações sobre a morte de Rubén Salazar, um americano de origem mexicana mexicano morto numa manifestação pela polícia de Los Angeles, mas devido às tensões raciais decidem continuar a conversa em Las Vegas, aproveitando uma proposta de trabalho de Thompson para cobrir a corrida Mint 400. Um mês depois Thompson volta a Vegas com Acosta para cobrir a Convenção Nacional de Procuradores sobre Narcóticos e Drogas Perigosas (tradução minha). Quem melhor que um advogado com um vício de anfetaminas e LSD e um jornalista com historial de abuso de drogas e amor pelas armas para cobrir tal convenção? Destas duas viagens sai uma obra prima, este Fear and Loathing, ilustrado por Steadman com grotescas caricaturas de Thompson (Raoul Duke no livro) e de Acosta (Dr. Gonzo, "a 300-pound Samoan", em honra do gonzo journalism, estilo literário inventado por Thompson), que depois de descascada de todo o surrealismo mostra claramente a desilusão de todo um movimento de contra-cultura afogado no mainstream americano.
Um livro que toda a gente devia ler.



21 de outubro de 2011

20 de outubro de 2011

The Complete Chronicles of Conan

UFA!!! Finalmente acabei esta Bíblia de novecentas e vinte e cinco páginas. Com todos os contos e novelas do Conan reunidos num só volume (se preferirem em português podem comprar na Saída de Emergência mas ainda não estão traduzidas todas as peças), só o peso mostra bem o quanto prolífico era Robert E. Howard (que além do Conan ainda tem outros heróis como Solomon Kane ou King Kull) antes de suicidar aos 30 anos devido ao stress provocado pelo coma da sua mãe.
Texano de nascimento, Howard foi vítima de bulling na sua infância o que, sem dúvida, o levou a criar um herói como o Conan. Sem dúvida, num ponto ou outro da nossa juventude desejamos ter a força ciclópica ou a agilidade felina de Conan, para já não falar no seu magnetismo natural para as mulheres...
Howard escreveu muito mas escreveu bem! A ação salta para fora das páginas de tão vívidas que são as imagens dadas pelas palavras do autor. Sejam descrições de uma batalha, de um corpo de uma jovem (que certamente vai ser salva por Conan) ou até dos movimentos do herói tudo se constrói na imaginação do leitor como se de um filme se tratasse.
Ao contrário da crença popular (provocada pelos filmes com o Arnold Schwarzenegger) Conan é extremamente inteligente, conhecedor de outras civilizações, de outras línguas faladas e escritas, sabe navegar, construir armas de cerco, cavalgar, escalar, etc. A expressão "Bárbaro" surge pelo facto de Conan, ao contrário dos homens ditos "civilizados", está em total sintonia com a natureza e com o seu corpo. Conan nasceu no meio da batalha e pelo aço vai abrindo caminho até reinar a Aquilonia, depois de ter sido mercenário, ladrão, pirata, explorador, etc.
Qualquer pessoa que goste de fantasia deve ler o Conan, pela qualidade dos textos e pela importância histórica que teve para o género, mas não façam como eu e leiam tudo de uma vez. Ao fim de 500 ou 600 páginas começa a fartar. Um bom livro para ter à cabeceira e ir lendo uma aventura de cada vez ao longo de muitos dias...

19 de setembro de 2011

Por Um Fio

Joe Connelly faz pleno uso da sua experiência profissional (foi para-médico durante cerca de 10 anos) para escrever este livro, tanto no conteúdo, como na sua forma. No conteúdo, porque as descrições das situações de emergência são fabulosas e às vezes tão surreais que só podem ser verídicas. Na forma, porque não há qualquer dúvida que este livro foi escrito por alguém que trata o stress por tu.
As coisas que acontecem a Frank, personagem principal, levam à reflexão por parte do leitor sobre assuntos muito importantes para a humanidade como a solidão, a pobreza, a miséria humana ou a morte, e fazem que que este esteja à beira da loucura, falando com os fantasmas das pessoas que "matou" (ou melhor: não consegui salvar). O título original do livro é Bring out the dead, pregão da idade média do cangalheiro, imortalizado pelos Monty Python no magnífico Quest for the Holy Grail, o que faz muito mais sentido uma vez que todos os pacientes que Frank assiste no livro morrem, excepto um traficante de droga, que talvez merecesse morrer.
Por Um Fio deu origem a um filme homónimo de Martin Scorsese, que eu aconselho vivamente a ver, que segue, de forma bastante fiel, o conteúdo do livro. Quanto à forma não podiam ser mais dispares: Scorcese filma com planos lentos, a banda sonora, com o tema principal de Van Morrison, T. B. Sheets, arrasta-se pelas ruas de Nova York tal e qual como a ambulância velha com que Frank e os seus parceiros patrulham a noite dos drogados, prostitutas, traficantes, bêbados e todos aqueles que a Big Apple rejeita. Quanto ao livro, este é escrito de forma vertiginosa (lê-se num ápice), segundo a perspetiva de um homem acabado, a caminho da loucura induzida pelo stress, que bebe álcool e café para se acalmar. Não é, sem dúvida, o típico bêbado que se arrasta e vomita mas um homem que apesar de beber não consegue por de lado a enormidade da sua tarefa e os sonhos de salvar o mundo, uma pessoa de cada vez, vão dando lugar à certeza de que o mundo não pode nem quer ser salvo.

8 de setembro de 2011

As Cinco Batalhas - A Saga dos Otori

Este último livro da trilogia original começa com a ameaça dos tios de Takeo (que ficaram os lideres do clã Otori) que lhe enviam, num cesto, a cabeça de Ichiro, seu professor. Takeo conduz o seu exercito pelas montanhas por forma a evitar o exercito Otori e dirige-se a Maruyama, terras herdadas por Kaede. Rapidamente Takeo recupera o território e começa a pensar em Hagi, cidade principal Otori, e chega á conclusão que a melhor maneira de a conquistar será por mar. Assim, dirige-se para Norte e encontra um amigo do tempo que passou em Hagi, Terada Fumio, cuja família de pescadores e comerciantes tornou-se pirata, e forma com o pai dele uma aliança que levará o seu exercito até Hagi pelo mar.
Entretanto Kaede, descobre que o seu vassalo de Shirakawa, Shoji, entregou como reféns as suas irmãs ao Senhor Fujiwara. Irada e contra todos os conselhos, Kaede vai exigir a libertação das suas irmãs a Fujiwara, mas cai numa armadilha sendo raptada e as suas irmãs entregues ao Senhor Arai. Takeo, quando volta do seu encontro com os Terada fica furioso e tenta atacar o Senhor Fujiwara mas encontra o exército de Arai pelo caminho, retirando para norte a fim de poupar os seus homens. Não vou contar mais porque o final tem uma grande volta e não vale a pena estragar tudo.
Qualquer das formas há uma palavra que descreve na perfeição a Saga dos Otori: Fantástica!!!

7 de setembro de 2011

O Desafio do Guerreiro - A Saga dos Otori

No início deste segundo volume da Saga original, Kaede segue em direção a casa, acompanhada de Shizuka, sua aia, membro da Tribo e prima de Takeo. Takeo, no volume anterior, por forma a honrar Shigeru, compromete-se com a Tribo a seguir o seu treino (que até aqui estava a cargo de Kenji, amigo de Shigeru e chefe de uma das famílias mais importante da Tribo, os Muto) sob a alçada dos implacáveis Kikuta (a outra família importante da Tribo) e assim atraiçoa uma aliança que fez com Arai, novo senhor da guerra e novo líder dos Três Países. Arai fica furioso e persegue Takeo enquanto este segue com Akio e Yuki (filha de Kenji) para uma aldeia Kikuta por forma a iniciar o seu treino. Entretanto, Kaede chega ao seu domínio, Shirakawa, apenas para o encontrar negligenciado pelo seu pai, cuja sanidade mental está por um fio. Kaede decide tomar as rédeas do seu domínio e da educação das suas irmãs, apesar do seu género. Para isso faz um pacto com um nobre da corte, Fujiwara, que a assiste em troca dos seus segredos. O tempo passa e Takeo mostra-se impaciente com o seu treino na Tribo e esta, exasperada com a sua desobediência, envia-o para uma missão "da última oportunidade". Takeo desobedece uma última vez e foge para Terayama, um mosteiro considerado o centro espiritual dos Três Países. A caminho Takeo é levada a uma mulher cega que lhe diz uma profecia que o irá condicionar para o resto da sua vida: "As tuas terras estender-se-ão de mar a mar mas a carnificina é o preço da paz. Custar-te-á cinco batalhas. Vencerás quatro e perderás uma. Os mortos serão incontáveis, mas tu estás a salvo da morte, exceto às mãos do teu próprio filho".
Muito mais há para descobrir neste magnífico livro e no fim há uma supresa para os fãs destes dois jovens cujos destinos estão entrelaçados.

29 de agosto de 2011

Confiança e Medo na Cidade

Zygmunt Bauman, sociólogo polaco radicado em Inglaterra, vai ao osso neste livro, relacionando a arquitetura e a organização das cidades, em que cada vez mais as pessoas vivem ou querem viver em bunkers (condomínios fechados ou mansões repletas de segurança), com a cultura do medo em que vivemos hoje em dia. Bauman afirma que o mal que corrói o mundo, nesta era de individualismo, é a mixofobia, o medo de lidar com pessoas de culturas e meios diferentes dos nossos, e é na cidade que esse problema se agudiza. Se nos anos 70 as pessoas que chegavam à cidade eram as pessoas do campo, mas com a mesma nacionalidade e, mais ou menos, com os mesmo costumes; agora quem chega são hordas de estrangeiros que trazem consigo novas línguas e culturas que nos são estranhas e, como tudo o que é estranho, provocam-nos medo. Cada vez mais os que podem se isolam do mundo exterior através de condomínios fechados, SUV, colégios particulares, etc propagando assim este ciclo vicioso.
Contudo, é também na cidade que se encontra a solução - a mixofilia (obtenção de prazer através da experiência  de convivência com estranhos). Se há pessoas que se fecham, outras há que procuram novos horizontes na diversidade que a cidade propõe. Bauman afirma que a solução dos problemas da modernidade passa pela promoção da mixofilia, sendo que os espaços públicos da cidade (as praças, os jardins, as ruas) são o local ideal para o fazer, visto que é nestes espaços que os estranhos se cruzam e podem partilhar as suas experiências, deixando de ser estranhos.
Em Lisboa parece-me que estamos a caminhar na mesma direção das grandes cidades do mundo. O bairrismo está a desaparecer, levando consigo os tempos em que todos os vizinhos se conheciam e os miúdos podiam jogar à bola na rua. As filosofias dos subúrbios (o total desconhecimento de quem mora no prédio em que se habita, quanto mais no bairro circundante, pessoas que partilham o elevador sem sequer dizer bom dia) avançam para dentro das cidades à medida que o dinheiro vai chegando para isso...
Recomendo, vivamente, a leitura deste pequeno grande livro.

17 de agosto de 2011

A Tribo dos Mágicos - A Saga dos Otori

A Tribo dos Mágicos (primeiro livro da trilogia original da Saga dos Otori) começa por contar a história de Takeo, neto de Shigemori, sobrinho de Shigeru, e de Kaede, herdeira de Shirakawa e Maruyama (último domínio que herda pela linha maternal). Tomasu (o nome de nascimento de Takeo) vive uma vida descansada numa aldeia escondida e seguindo os ensinamentos dos Ocultos. Kaede é refém dos Senhores Noguchi, para garantir a fidelidade do Senhor Shirakawa ao Senhor Iida Sadamu, que provocou a desgraça dos Otori através, precisamente, da traição dos Noguchi, vassalos dos Otori. A história começa com dois eventos sangrentos: toda a aldeia de Tomasu/Takeo é chacinada por Iida Sadamu, que persegue os Ocultos, e Kaede mata um homem, soldado dos Noguchi, que a tenta violar. A partir daqui, desenrola-se mais uma vez uma história lindíssima, em que a filosofia japonesa é levada muito a sério (honra, família, tradição) e no qual as personagens são constantemente confrontadas com escolhas dificílimas nas quais normalmente se encontram, em polos opostos, o Amor e a Honra. Por ora Takeo e Kaede, apesar de se amarem loucamente tem que seguir caminhos diferentes e desesperados, não acreditando que o destino os volte a unir.

13 de julho de 2011

O Fio do Destino - A Saga dos Otori

A Saga dos Otori é uma das mais belas sagas de fantasia que eu conheço. Tenho que admitir que sou totalmente parcial a favor desta saga que agora tem cinco livros. Como é normal a história passa-se num país inventado - o País do Meio - mas em vez de a fantasia ser baseada na mitologia Anglo-Celta ela é baseada na mitologia Japonesa e isso faz toda a diferença. À sociedade rígida e estratificada Japonesa (samurais, camponeses, lutas entre feudos, um imperador, que o é só no nome, e até um Deus novo que começa a ganhar crentes entre as classes mais baixas, seguindo fielmente a história do Japão, aquando da chegada dos Portugueses), Lian Hearn, pseudónimo de Gillian Rubinstein, junta a Tribo, uma seita de seres humanos que tem poderes como audição e olfato super apurados, e até invisibilidade. Neste cenário surge Otori Shigeru, herdeiro do Clã Otori, lideres prósperos e justos do País do Meio, jovem que anseia por agradar ao pai e que  se rege, à risca, pelo Bushido, o Código dos Samurais. Já no país vizinho, o País do Leste, Iida Sadamu, move-se apenas pela sede de poder, não se coibindo de matar e torturar para obter os seus intentos. Sadamu, herdeiro dos Tohan, espicaça os Otori nas suas fronteiras, levando Shigeru a dar-lhe batalha. Sadamu ganha a batalha, com a traição de vários vassalos dos Otori, e Shigeru tem que se submeter aos seus tios e na sombra fazer tudo para conseguir a sua vingança. O tempo passa e  Shigeru faz de conta que é lavrador (melhorando em muito a produção dos Otori), ao mesmo tempo que percorre as suas terras recolhendo informações sobre a Tribo e sobre o estado de descontentamento do seu povo. Tudo parece perdido quando o irmão de Shigeru, Otori Takeshi, é morto por guerreiros Tohan mas Shigeru consegue achar a solução para a sua vingança na remota aldeia de Mino...

4 de julho de 2011

Manual das Finanças Pessoais

Quando comprei este livro na feira não estava à espera de gostar tanto. Os autores, João Pessoa Jorge, Licenciado em Gestão, e Ricardo Ferreira, Licenciado em Economia,  escrevem de uma forma simples e clara e desmistificam as finanças para o comum dos mortais. O livro segue uma ordem lógica, começando primeiro pelo controlo de gastos, pelo desendividamento, pelo investimento até a independência financeira. Quem ainda acha que investir na bolsa é reservado apenas a grandes carolas da alta finança tem que ler este manual.
Muitas das técnicas de controlo das despesas eu já sabia (sendo a mais importante o balanço orçamental, ou seja, anotar todas as despesas e todos os ganhos SEMPRE!!!. Para tal eu uso o programa GnuCash que é gratuito e tem todas as funções necessárias para controlar um orçamento pessoal) e muitas das questões referidas no capítulo "O negócio bancário" também. Gostei particularmente do cálculo do Salário Horário Real no qual se reduz as despesas fixas do salário líquido por forma a saber o quanto se ganha realmente por hora.
Onde o meu interesse realmente começou foi na segunda parte do livro, "Os básicos do investimento". Os conceitos básicos de risco, retorno, liquidez, etc são todos cobertos e, mais importante, como começar uma carteira de ativos (com explicação do que são esses ativos: obrigações, ações, fundos de investimento, etc) para um determinado objetivo (reforma, faculdade dos filhos, etc). Muito bom!!! Aconselho a toda a gente agora que a crise vai apertar (mais ainda...).

22 de junho de 2011

Um Mundo Sem Regras

Amin Maalouf, um autor nascido no Líbano, radicado em Paris, escreve este livro para tentar dar um pouco de luz sobre os problemas do médio oriente, problemas esses que tiveram como consequência o fanatismo islâmico. Com uma análise séria e de estilo jornalístico, com uma grande bibliografia, Maalouf segue pela história recente dos países islâmicos do médio oriente, desde a 2ª Guerra Mundial, altura em que as grandes potências colonizadoras "largaram" as suas colónias ao seu destino e todos os problemas começaram (ou talvez deva dizer, vieram à superfície) até aos dias de hoje.
Do lado negativo devo dizer que o texto dá a entender que Maalouf acredita que os atentados ligados ao terrorismo (nomeadamente o 11 de Setembro) foram efectuados servindo os interesses islâmicos e não os interesses Americanos, algo que eu acho altamente improvável senão totalmente impossível e que um jornalista avisado deveria, pelo menos, questionar...
Por fim são apontados os problemas do mundo em geral (o desregramento intelectual, económico, financeiro, climático) e apontadas soluções ("(...) Por vezes, fala-se da crise moral do nosso tempo em termos de «perda de referências» ou de «perda de sentido»; (...) Do meu ponto de vista não se trata de «reencontrar», mas de inventar. (...) Do meu ponto de vista, sair «por cima» do desregramento que afecta o mundo exige a adopção de uma escala de valores baseada no primado da cultura, direi mesmo baseado na salvação pela cultura. (...)") se bem que, apesar de verdadeiras, talvez sejam um pouco ingénuas ("(...) já não podemos permitir-nos conhecer «os outros» de maneira aproximativa, superficial, grosseira. Temos necessidade de conhecê-los com subtileza, de perto, direi mesmo na sua intimidade. O que só pode fazer-se através da sua cultura. E em primeiro lugar através da sua literatura. A intimidade de um povo é a sua literatura. (...)") e impraticáveis.
Qualquer das formas é um livro muito interessante quer por permitir aprofundar os porquês do extremismo do Islão, quer por conter algumas ideias muito interessantes e inéditas para mim (por exemplo "(...) A desconfiança que prevalece na tradição muçulmana, como na tradição protestante, em relação a uma autoridade religiosa centralizadora é perfeitamente legítima e muito democrática na sua inspiração; mas tem um efeito secundário calamitoso: sem esta insuportável autoridade centralizadora nenhum progresso é inscrito de modo irreversível. (...)".

14 de junho de 2011

9 de junho de 2011

O Cid, Campeador

Prosa épica baseada na Gesta Castelhana do séc. XIII, El Cantar del Mio Cid, adaptada por Arthur Lambert da Fonseca, conta a história de um herói da reconquista Ibérica, Rodrigo Díaz de Vivar, que viveu no século XI e que ganhou fama batalhando os mouros, culminando com a sua conquista de Valência.
Li novamente este livro porque foi, digamos, um percursor do meu gosto de fantasia. A minha mãe comprou-o num alfarrabista e ofereceu-me quando eu tinha uns 15 anos. Não me lembro se já tinha lido o Tolkien ou a Ursula Le Guin mas sempre gostei deste livro, apesar de agora, após alguma pesquisa, saber que a história do Cid não foi bem assim. Se gostam de fantasia, romances de cavalaria ou romances históricos e apanharem este livrinho num alfarrabista aproveitem porque é bem engraçado.

6 de junho de 2011

A Revolução Electrónica

William S. Burroughs propõe neste ensaio que "word is virus" - a palavra é um vírus - no sentido literal ((...) Falei frequentemente da palavra e da imagem como vírus ou agindo como vírus, e não é uma comparação alegórica. (...)) mas parece-me que Burroughs não sabia nada acerca do que é um vírus nem do que é a evolução das espécies. Propõe então que um vírus se alojou na garganta dos macacos e tornou-se benéfico ou simbiótico em vez de parasitário. Tal é impossível à luz do que se sabe hoje da natureza viral. O que é certo é que W. B. chega a conclusões verdadeiras através de premissas falsas (como tantas vezes acontece na ciência). A título de  exemplo, se se colocar gravações sonoras de motins numa manifestação ela deixará de ser pacífica rapidamente. Tais técnicas já foram usadas com eficácia por agitadores quer governamentais quer subversivos. Burroughs também propõe que a palavra escrita é aquilo que distingue o ser humano de outros seres e que através dela é possível transformar as gerações futuras. Não concordo que a escrita seja aquilo que nos diferencia dos outros seres mas sem dúvida que deixa uma marca no futuro da humanidade. Escrito com a técnica de cut-ups (Burroughs retira citações de várias fontes, sem dizer a sua origem, misturando com texto da sua autoria), algo próximo das colagens nas artes plásticas, o texto é de fácil leitura mas difícil de decifrar o seu verdadeiro conteúdo.
Um livro muito interessante mas que deverá ser lido mais que uma vez para ser completamente digerido.

27 de maio de 2011

Daenerys a Mãe dos Dragões

Este Daenerys a Mãe dos Dragões apresenta aos jovens (ou quem o quiser ler) o maravilhoso universo da série As Crónicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, através da história da última descendente da casa Targaryen, senhores dos sete reinos, depostos por Robert Baratheon, o Usurpador, que matou seu pai e seu irmão mais velho e a forçou ao exílio do outro lado do mundo com o irmão Viserys, à procura de um exército para reconquistar o trono. Viserys vende a irmã a Khal Drogo, chefe do maior Khalazar (líder de uma horda que fica a meio caminho entre os Índios da América do Norte e os Mongóis da China) por 10.000 cavaleiros Dothraki. As coisas não correm bem como Viserys espera, e Daenerys torna-se a verdadeira descendente dos dragões. Este pequeno livro é composto pelos capítulos dedicados a Deanerys nos dois primeiros  volumes das Crónicas de Gelo e Fogo, não trazendo nada de novo a quem já leu esses volumes, mas é interessante ver como a história se desenrola toda de seguida. Para quem estiver interessado mas não quiser comprar o pequeno volume pode sempre fazer o download da versão integral deste eBook aqui.

The Earthsea Quartet 3 de 4 - The Farthest Shore

Algo de grave acontece em Earthsea, quando nos confins do mundo aparecem rumores de que a magia nunca existiu, as canções começam a desaparecer e os homens sacrificam as suas crianças em altares... Arren, um jovem príncipe das ilhas Enlad, chega a Roke, com notícias perturbadoras de que também na sua ilha, terra de Morred, as palavras da verdadeira fala estão se a perder. Num ato irrefletido de lealdade, Arren joga-se aos pés do Arquimago, jurando servi-lo enquanto for preciso. Ged e Arren (Lebannen de seu nome verdadeiro; e que quer dizer Rowan Tree na fala orginal - sorveira brava) seguem no Lookfar (barco já mítico de Ged) até aos confins do sul, onde as regras mudam e onde surgiram as primeiras notícias de mudança. Arren começa a conhecer o mundo e a si próprio, enveredando também numa viagem de auto-conhecimento, que começa com uma criança e acaba com um homem... Após várias peripécias, como se de um romance policial se tratasse, seguem de pista em pista até que Lookfar segue o dragão Orm, até Selidor, a ilha mais longe, na qual se encontra Cob, a nemesis de Ged, quem sabe mais poderoso que este, e que na sua ânsia de poder destrói o equilíbrio do mundo, abrindo uma ferida neste (um pouco como Ged o fez no primeiro livro). Com a ajuda preciosa do dragão, Ged e Arren seguem Cob para a terra seca, onde as estrelas nunca se põem, e sacrificando toda a sua arte e quase a vida, Ged fecha o buraco do mundo e torna-o inteiro novamente. Arren arrasta-se e a Ged pelas montanhas da Dor e consegue voltar novamente para o mundo dos vivos pelo caminho mais comprido e difícil.
The Farthest Shore (A Praia Mais Longínqua na Presença e O Outro Lado do Mundo na Argonauta) é a conclusão perfeita da mais bela trilogia de fantasia que eu já li, na qual só com grandes sacrifícios as coisas importantes são realmente feitas.

17 de maio de 2011

The Earthsea Quartet 2 de 4 - The Tombs of Atuan

The Tombs of Atuan (Os Túmulos de Atuan ou Os Túmulos de Atuan mas eu apontava para a tradução da Livros do Brasil pelo Eurico da Fonseca) conta a história da procura do Anel de Erreth-Akbe, perdido há muitos séculos, e que leva Ged até às terras Kargad, mais precisamente à ilha de Atuan. Aí, perdido no meio do deserto, existe um templo erguido em nome de um dos antigos poderes da terra, com uma sacerdotisa, Arha, a Devorada, The One Priestess, para sempre renascida. No dia e na hora em que morre a Arha-que-foi, partem dos Túmulos pessoas em busca da Arha-que-é, procurando todas as meninas que nasceram nessa altura, ao estilo do Dalai Lama. Assim, uma menina de 5 anos, chamada Tenar, é arrancada dos braços da mãe e levada para os Túmulos para cumprir o seu destino eterno e se tornar Arha. Os dias no templo vão-se passando e Arha não encaixa bem na rotina é norma. Um dia, um ladrão tenta roubar os Túmulos - Ged. Arha engana o mago e este entra num labirinto do qual não pode sair. A sacerdotisa, para satisfazer a sua curiosidade, interroga o prisioneiro acerca das suas motivações e das artes mágicas, que não existem nas terras Kargad, acabando por descobrir que a prisioneira era ela. Ged mostra-lhe aquilo que ela pode ser e esta escolhe ser Tenar fugindo com Ged dos Túmulos, levando consigo o Anel de Erreth-Akbe. Mais uma vez a beleza e a simplicidade da escrita de Le Guin impressionam, levando o leitor a devorar as páginas deste livro, que se debruça sobre o auto conhecimento, sobre o destino que podemos dar às nossas vidas e sobre as escolhas que fazemos e como elas nos afetam. E para terminar: "(...) Freedom  is a heavy load, a great and strange burden for the spirit to undertake. (...) It is not a gift given, but a choice made, and the choice may be a hard one. The road goes upward towards the light; but the laden traveller may never reach the end of it. (...)" ("A liberdade é um fardo pesado, um grande e estranho fardo para o espírito absorver. (...) Não é um prémio dado, mas uma escolha feita, e essa escolha pode ser bem dura. A estrada sobe até à luz; mas o viajante carregado pode nunca chegar até ao fim."

5 de maio de 2011

The Earthsea Quartet 1 de 4 - A Wizard of Earthsea

The Earthsea Quartet é composto por quatro livros que contam as aventuras e desventuras de Ged, o Gavião (Sparrowhawk no original). O primeiro, A Wizard of Earthsea (O Feiticeiro de Terramar ou O Feiticeiro e a Sombra em Português) principia em Gont, uma ilha famosa pelos seus cabreiros, marinheiros e mágicos, numa aldeia remota das montanhas onde o jovem Ged dá mostras, pela primeira vez, do seu poder imenso. Ogion, o silencioso, toma o rapaz como pupilo e tenta-lhe ensinar aquilo que lhe falta. Não o poder, que isso ele tem demais, mas paciência. Ged não se contenta e Ogion envia-o ao Arquimago em Roke, a ilha dos sábios, para que ele aprenda as mais altas artes mágicas, recomendando-o como "(...) one who willbe greatest of the wizards of Gont (...)". Ged torna-se o mais rápido aprendiz de Roke até que, por orgulho e despeito, abre uma fenda no tecido do mundo, libertando uma Sombra que o deforma e tenta destruir. Quando Ged finalmente se torna um Mágico (processo muito moroso porque a Sombra destrói toda a sua confiança) este parte primeiro como presa e depois como caçador numa demanda de auto conhecimento, que o leva a enfrentar dragões e os antigos poderes da terra, até aos confins do mundo conhecido, numa tentativa de descobrir o nome verdadeiro da Sombra, chegando à conclusão de que a Sombra é uma parte dele mesmo e que só pode ter um nome: Ged!
Le Guin é uma fantástica contadora de histórias e tem nestes livros a mais bela descrição de magia que eu já li: o poder vem de saber os verdadeiros nomes das coisas, nomeados por Segoy (Deus) no início dos tempos e que a realidade é uma grande palavra para sempre proferida até ao fim dos tempos ("For magic consists in this, the true naming of a thing"). Quando o encantamento é feito ele é "tecido" com palavras e movimentos ("(...) he wove on the wind's loom a sail of spells, a square sail white as the snows on Gont Peak above. At this the women watching sighed with envy. (...)" - "(...) ele teceu no tear do vento uma vela de encantamentos, uma vela quadrada branca como as neves do Gont Peak. As mulheres que observavam suspiraram de inveja (...)"). Lindo!!!

15 de abril de 2011

14 de abril de 2011

O Dragão Branco (1 e 2)

O Dragão Branco (novamente em dois volumes na coleção Argonauta e em um volume na coleção da Gailivros) é o fim da trilogia Dragonriders of Pern. Conta a história do jovem Senhor Jaxom, órfão de Pai e de Mãe, herdeiro do Baluarte de Ruatha, por Lessa, agora Mulher-de-Ninho de Benden, ter abdicado em seu favor, e cavaleiro de Dragão de Ruth, um pequeno Dragão Branco, que Jaxom salvou de morte certa, quando o seu ovo estava prestes a ser abandonado por todas as outras pessoas por ser mais pequeno. e não ter aberto de imediato. Esta Impressão causou grandes problemas aos Chefes de Benden porque Lessa apenas abdicou Ruatha para o jovem Jaxom e os outros Senhores de Baluarte insistem que Ruth seja criado no Ninho. Inicialmente todos sentem que o pequeno Dragão não irá viver muito tempo (todos expecto os seus pais: Ramoth e Mnementh) por isso deixam Jaxom tome conta de Ruth no seu Baluarte. Isto cria ainda mais problemas porque Lytol, Guardião de Ruatha e tutor de Jaxom, a pessoa que o jovem mais quer agradar, é um ex Cavaleiro de Dragão, que perdeu o seu animal num acidente e sofre imenso com isso. Ruth cresce e mostra-se saudável, apesar de diferente, e revela-se o Dragão mais inteligente de todos, atingindo uma cumplicidade com Jaxom única e tornando-se um Dragão muito apreciado entre os seus pares e entre todos os Cavaleiros de Pern. Anne McCaffrey continua aqui neste livro a mostrar toda a sua qualidade na escrita, desenvolvendo mais um pouco o complexo e maravilhoso mundo de Pern.

12 de abril de 2011

O Planeta dos Dragões (1, 2 e 3)

O Planeta dos Dragões, nesta edição da Argonauta, é composto por três volumes que contêm duas obras:  Dragonflight e Drangonquest (que foram alvo de nova edição em português pela editora Gailivro, na coleção Mil e Um Mundos, O Voo do DragãoA Demanda do Dragão). Anne McCaffrey, autora americana, tem como principal obra esta série, Dragonriders of Pern, composta por mais de 20 livros, que já foi premiada com os mais prestigiados prémios de Ficção Científica. Pern é um planeta descoberto e colonizado pelos humanos, muitos milénios antes da ação dos livros, apesar de no presente tempo ter regredido para uma Idade Média feudal, em que Dragões foram criados a partir de uma espécie de lagartos voadores.
A razão desses Dragões terem sido criados prende-se com o facto de um pequeno planeta, com uma orbita errante, a Estrela Vermelha, quando a conjugação de vários planetas o permite, liberta uns esporos (os "Fios") que atravessam o vazio em direção a Pern, destruindo toda a matéria orgânica em que tocam, durante vários "Turnos", a que corresponde a uma "Passagem". Assim, as criaturas aladas, que "comem" "pedra-de-fogo" e lançam chamas em pleno ar, fazem parte da proteção que os "Antigos" criaram para proteger Pern dos Fios. Outra característica que os Dragões possuem é poderem deslocar-se, instantaneamente, "entre" locais e "entre" tempos, bastando para isso o seu cavaleiro visualizar o local para onde deseja deslocar-se. Entre Dragões e Cavaleiros existe uma ligação empática muito forte, sendo que o Dragãozinho quando nasce, é "Impressionado" pelo seu futuro cavaleiro, "Impressão" essa que é para toda a vida. Pern criou uma estrutura social peculiar, em que os "Baluartes" (os feudos) dão um dízimo aos "Ninhos", porque os Cavaleiros têm que cuidar dos seus Dragões e viver em locais inóspitos.
Esta série de livros começa com os "Ninhos" em decadência (só um está ativo, Benden, após o desaparecimento misterioso de cinco, e com uns escassos duzentos Dragões em vez dos mil possíveis), após um "Intervalo" anormalmente longo ("Intervalo" é o espaço de tempo entre uma "Passagem" e outra) e por isso os "Baluartes" desprezam o "Ninho" por acharem que este é inútil e os "Fios" não voltaram a cair.
Jora (a última rainha dos dragões viva) está perto da morte e na sua última postura tem um ovo de rainha na ninhada. F'lar, cavaleiro do Bronze Mnementh (Bronzes são os machos mais fortes, havendo também Castanhos e Azuis. As rainhas são Douradas e as fêmeas Verdes são inférteis), procura em Ruatha (o segundo "Baluarte" mais antigo e com mais tradições em fortes Mulheres-de-Ninho) uma jovem com o espírito suficientemente determinado para levar a bom porto a recuperação do prestígio dos "Ninhos" perante as gentes de Pern. Lessa encontra-se em Ruatha, sendo a última sobrevivente do sangue, após um ataque que eliminou toda a sua linhagem, dez "Turnos" antes, maquinando para a destruição de Fax (o senhor brutal que conquistou a seu "Baluarte"). Quando os cavaleiros de Dragão chegam, Lessa vê uma oportunidade de ver o seu direito reivindicado mas nem tudo corre como esperava... Apesar de F'lar matar Fax em duelo, este convence Lessa a abdicar do seu direito para o recém nascido Jaxom, e a seguir com ele para tentar impressionar a Rainha que está para nascer... Lessa torna-se Mulher-de-Ninho e cavaleira de Ramoth com F'lar como seu par e Chefe-de-Ninho... Tudo mais se desenrola de uma forma que prende o leitor ao livro, devorando páginas atrás de páginas...
Quem me dera ter um Dragão!!!

8 de abril de 2011

O Bailado das Estrelas

Spider e Jeanne Robinson, escritor e bailarina e coreógrafa, respetivamente, escreveram este belíssimo Stardance (primeiro volume de uma série de três, algo que só descobri a investigar para escrever esta "posta" - já comprei Stardance Trilogy), em que uma jovem, Sharra Drummond, perseguindo o seu sonho de ser uma grande bailarina, se vira para o espaço como palco para os seus bailados, por forma a suprir as suas limitações na Terra (leia-se: era alta e boa como o milho coisa que para uma bailarina é péssimo). Sharra vende o seu corpo a Carrington, dono do complexo orbital Skyfac (uma estação espacial privada) e multimilionário, em troca de um "palco" no firmamento. Consigo leva Charles Armstead, ex promessa do bailado e agora o melhor realizador e operador de câmara da arte, tornado cínico depois de ter levado um tiro na anca e perdido uma carreira que se avistava grande. Com o período de tempo no espaço limitado por o seu corpo estar-se a habituar à total ausência de gravidade, o que tornaria impossível o seu regresso à Terra, Sharra consegue treinar e executar dois bailados mas quando vai fazer o terceiro, que a lançaria definitivamente como uma Bailarina das Estrelas, Carrigton, com o aval do médico do complexo, quer trazer Sharra para a terra porque Sharra vale mais viva do que morta à Skyfac. Mas algo acontece que impede Sharra de voltar à Terra. Um grupo de extraterrestres aparece com más intenções e Sharra explica-lhes, dançando, o que é ser humano  e expulsa-os do Sistema Solar. Condenada, Sharra perde-se como um meteoro na atmosfera.
Ao contrário do que possa parecer isto é só prelúdio. A personagem principal é Charlie Armstead (também o narrador da história) que se junta a Norrey Drummond e a mais uns tantos para formar a companhia de bailados das estrelas e mais não conto para não estragar a surpresa. Enfim, um grande livro de FC, com descrições lindíssimas do espaço (especialmente Saturno) e que eu adoro reler.

3 de abril de 2011

Um Estranho Numa Terra Estranha

Robert A. Heinlen foi, durante largos anos, em conjunto com Isaac Asimov e Arthur C. Clarke, considerado um dos Big Three da ficção científica. Heinlen contribuiu de forma inequívoca para mostrar ao grande público a FC. Escrito em 1961, tornou-se no primeiro best seller de Ficção Científica e um clássico de culto da contra cultura do anos 60, devido à sua temática de libertação sexual, à sua posição em relação à igreja e a todo o sabor anti establishment da nossa sociedade que só pensa no consumo e tenta aniquilar o indivíduo. Magistralmente bem escrito, elevando a fasquia da qualidade na FC, Um Estranho Numa Terra Estranha, conta a história de Valentine Michael Smith, um jovem humano mas com educação Marciana, que se vê confrontado com a nossa sociedade e todos os seus males. Por um acaso (ou não) acaba no reduto de Jubal Harshaw, autor, advogado, médico, filósofo, parasita, entre outras coisas, que o adota como filho e o ensina a ser humano. Jubal, por muitos considerado a personagem principal do livro, e também a voz de Heinlein no livro, é dono de uma compreensão da raça humana, não desprovida de algum cinismo, que leva a que Michael considere que o Pai Jubal, seja o mais Marciano dos homens. Um exemplo  de uma pérola de Jubal, que começa com uma conversa acerca de Rodin: "(...) uma pessoa tem de aprender a olhar para a arte. Mas cabe ao artista usar linguagem que possa ser entendida. Muitos destes brincalhões não querem usar uma linguagem que tu e eu possamos aprender; preferem escarnecer porque nós não «conseguimos» ver aquilo que eles querem dizer. Que não é nada. A obscuridade é o refúgio da incompetência (...)". Demais!!!
Michael, após muito tempo e muitas experiências, groca a raça humana, tornando-se num Messias, ensinado a língua Marciana, língua muito mais espiritual que as humanas, professando Tu ês Deus, e seguindo o caminho de todos os Messias: o martírio. Assim, como Jesus Cristo, consegue a força suficiente para as sementes da sua doutrina vingarem entre os homens e dar a Terra de presente para uma nova raça de semideuses.

31 de março de 2011

A Conquista das Estrelas 1 e 2

Outro dos meus favoritos, A Conquista das Estrelas (na edição portuguesa dividido em 2 volumes, Voyage From Yesteryear no original), trata de como o progresso cientifico pode fazer com que a humanidade passe a viver numa adhocracia (gostei tanto desta palavra :) ). A humanidade está novamente à beira de uma nova guerra mundial e um grupo internacional de cientistas decide enviar numa sonda de exploração apetrechada de maneira a criar, através de um pool genético constante nas bases de dados dos computadores da sonda e de úteros artificiais, um conjunto de seres humanos, uma vez que chegue a um planeta habitável, para, efetivamente, colonizar esse planeta, salvando assim a humanidade da extinção. A Kuan-Yin (nome da sonda) chega a Alfa de Centauro e descobre um planeta habitável, Chiron, e começa o seu programa de colonização.
Entretanto, na terra, a Guerra Mundial estala mas não leva à extinção a raça humana. Após alguns anos de dificuldades, novos blocos de poder se levantam e estes decidem ir tomar posse de Chiron. Devido ao facto de terem sido criados sem os preconceitos existentes na Terra e com a ajuda de robôs "maternais" que os educaram a fazer perguntas a si próprios sobre tudo o que os rodeia, os Chironianos têm outros planos quanto à posse do planeta. O livro descreve o choque entre a mentalidade que vem da Terra, baseada no capitalismo, com lutas de poder e o uso indiscriminado à força para impor ideologias e uma nova mentalidade, sem sistema económico que se veja, com a distribuição do poder baseada nos conhecimentos de de cada um para uma determinada área e com o reconhecimento de competências do individuo como moeda de troca.
A cultura da Terra é baseada nos recursos finitos e a cultura Chironiana é baseada nos recursos infinitos do espírito.
Um magnífico livro em que se descreve uma anarquia perfeitamente possível e nada utópica.

22 de março de 2011

Tigre! Tigre!


Este é daqueles livros que eu adoro. Houve uma altura da minha vida que o lia pelo menos uma vez por ano (e mais outros cinco ou seis que vou ler novamente para os blogar) desde que a minha mãe mo deu para me introduzir às maravilhas da Ficção Científica. Já o li mais de 15 vezes. Alfred Bester publicou este Tigre! Tigre! (o título é em honra do poema The Tyger de William Blake, mas também é conhecido como The Stars My Destination) em 1956. Discutivelmente, o primeiro romance cyberpunk da história da literatura, com todos os ingredientes que vieram a caracterizar o género, tais como corporações mais poderosas que os governos, em que os seus chefes são autênticos senhores feudais, um cenário de guerra eminente e global, humanos ciberneticamente melhorados e até uma bela e fogosa bandida (uma Trinity mas ruiva).
A acção passa-se no século XXIV, altura em que a humanidade descobre a forma de se teleportar (no livro Jauntar). Parece uma coisa boa mas o que é facto é que o sector dos transportes e das comunicações vão à vida e isso destrói o delicado equilíbrio económico em que a humanidade vive, colocando-a (outra vez) à beira de uma guerra, desta vez interplanetária. A sociedade regressou aos costumes vitorianos, aprisionando as mulheres, supostamente  para manter a sua castidade, devido a uma nova classe de bandidos que seguem a noite destruindo tudo à sua passagem (os chacais).
É no meio de todo este cenário que o nosso (anti) herói, Gulliver Foyle, o protótipo do homem comum, falho de qualquer ambição, se encontra, perdido algures no espaço, no meio de uns destroços, pronto a acordar para uma senda de vingança que o levará a tornar-se um novo Messias para a raça humana, mas sempre pelos caminhos mais dúbios e violentos.
Apesar de o ter lido e relido este Tigre! Tigre! continua a manter toda a força e beleza da sua mensagem.

17 de março de 2011

O Nome da Rosa

Humberto Eco, filósofo e crítico literário, começou a sua carreira de romancista com este Nome da Rosa, em 1980. Naquilo que começa por ser uma história policial na idade média (circa 1325), em que Guilherme de Baskerville - nome criado em honra de Guilherme de Occam  (frade Franciscano que, entre muitas outras coisas, criou a Occam's Razor, um postulado cientifico que diz que havendo várias soluções para um mesmo problema ) e de Sherlock Holmes com os seus Cães de Baskerville - e Adso de Melk vão até a uma Abadia investigar um crime entre os frades que tomam contam d'"a maior biblioteca da cristandade", acaba numa excelente crítica às disputas da igreja da altura. Os crimes merecem a maior descrição devido a um encontro importantíssimo que irá ter lugar na abadia, entre a facção do papa de Avinhão, João XXII, e os Franciscanos, alinhados com o Imperador. Guilherme, um frade franciscano forte opositor do papa, ex inquisidor, com provas dadas na descoberta da verdade através da lógica, vai de pista em pista (e de cadáver em cadáver) até a resolução final do mistério levando o leitor, ora a desconfiar de um frade ora a desconfiar de outro, como em todos os bons policiais. Pelo meio fica um tratado sobre as disputas de poder, a terrível realidade da inquisição, os vários pecados mortais e sobre a própria existência de Deus. Um livro que recomendo toda a gente a ler (uma dica: esqueçam as partes em latim. Não são precisas para a história)

24 de fevereiro de 2011

A Liga dos Cavalheiros Extraordinários II - Volume I e II

Esta nova aventura da Liga começa com Gullivar Jones (Lieutenant Gullivar Jones: His Vacation) e John Carter (A Princess of Mars) em Marte a lutar, com a ajuda dos Sorns (Out of The Silent Planet) contra uns moluscos viscosos ("malditos vermes do espaço" nas palavras de Mr. Hyde). Aquilo que parece ser o fim dos problemas de Marte são apenas o início dos problemas na terra e aqui, mais uma vez, A Liga é chamada para intervir. Inicialmente de mãos atadas, a Liga observa, impotente, a invasão destes seres do espaço cujo o único objectivo é a destruição de Londres. Após traições, luxúria e revelações surpreendentes, e quando tudo parece perdido os invasores são derrotados (tal como na Guerra dos Mundos, de onde são tirados estes invasores e os seus Tripods, a história acaba abruptamente ao estilo Deus Ex Machina). No fim a Liga fica destroçada, acabando o livro em Serpentine Park (futuro Hyde Park em honra a Mr. Hyde) com Quatermain e Miss Murray a despedirem-se. Mal posso esperar pelas próximas aventuras da Liga.

23 de fevereiro de 2011

A Liga dos Cavalheiros Extraordinários - Volume I e II

Alan Moore e Kevin O'Neill têm nesta Liga dos Cavalheiros Extraordinários uma criação fantástica. Partindo da premissa que as personagens dos livros vitorianos (Wilhelmina Murray do Dracula, Sherlock Holmes - na história morto há sete anos - ou Nemo das 20 000 Léguas Submarinas, por exemplo) existiram na realidade, Moore e O'Neill criam as aventuras de um grupo de improváveis heróis, juntos pelos serviços secretos Britânicos, para ajudar a gloriosa Albion, nos mais diversos problemas, todos eles fantásticos. Nesta primeira aventura (a edição portuguesa da Devir encontra-se dividida em 2 volumes) um tal de Campion Bond (avô do James Bond) convida Miss Murray a juntar a equipe. Seguindo no submarino de Nemo até ao Cairo, Miss Murray tenta convencer Quatermain (As Minas de Salomão) a abandonar o seu vício do ópio para, uma vez mais, servir a Inglaterra. As peripécias seguem até França para convidar (ou capturar) Dr Henry Jeckyll (O Estranho Caso de Dr. Jeckill e Mr. Hyde). De volta a Inglaterra a equipe fica completa com Hawley Griffin (O Homem Invisível). A partir daqui a história prossegue de forma vertiginosa até à conclusão, passando sempre por imensas referências literárias do séc. XIX ou principio do séc XX. Um traço fantástico, bem colorido e uma história bem tecida e escrita fazem destes 2 volumes da Devir um must em qualquer colecção de Banda Desenhada que se prese. Aconselho vivamente. PS: O filme é, pura e simplesmente, uma m**** comparado com os livros... Esqueçam!!!

21 de fevereiro de 2011

O Sarcófago

Tenho que admitir: Bilal sempre foi um pouco demais para mim, mas este O Sarcófago é fabuloso. Bilal e Pierre Christin criam uma brochura para apresentar, a ricos investidores, a proposta de tornar Chernobyl no "Museu dos Museus". Genial!!! Com desenhos intercalados com fotografias verdadeiras e os textos criados com citações de pessoas que estiveram no pesadelo (quer quando o acidente se deu quer depois nas operações de limpeza e contenção dos danos) o livro dá uma ideia, de forma jocosa, do horror que foi (é) Chernobyl. O Museu está dividido por 4 edifícios (tantos quanto os reactores) que por sua vez estão divididos por salas (Sala glasnost - O Fim da História, A Morte das Ideologias; O Zoo - onde estarão expostas as espécies animais e humanas em vias de extinção; A Sala dos Ricos - onde os visitantes poderão ver verdadeiros milionários dando assim a conhecer a vida dos ultra-ricos; A Sala das Armas - em que o patrocinador é a National Rifle Association; isto só para nomear algumas delas) excepto o Edifício 4 que é composto pelo próprio Sarcófago (a estrutura de cimento que foi criada para tentar conter a radiação). No meio disto tudo estão pérolas como "sugestão do comité de prefiguração: recrutar prioritariamente como recepcionistas jovens submetidos com sucesso a operações à tiróide" ou "não há nenhuma boa explicação para a ausência de um cientista estrangeiro entre nós" (citação). Para terminar "os guias encarregues de acompanhar os pequenos grupos até às entranhas do sarcófago serão constituídos por stalkers. Recrutados junto dos antigos liquidadores de Tchernobyl". Por 5 euros nos alfarrabista não há que enganar!!!

17 de fevereiro de 2011

Farewell To Arms

Neste Farewell to Arms, Hemingway escreve a história (mais ou menos autobiográfica) de um jovem Americano - Henry - que se torna condutor voluntário de ambulâncias em Itália, durante a I Guerra Mundial.
Neste cenário, Henry consegue apaixonar-se, ser ferido, recuperar num hospital em Milão, voltar à frente e desertar com a sua nova namorada para a Suíça e no fim... tudo corre mal...
O livro é muito bem escrito, lê-se a um ritmo estonteante mas, apesar de tudo, não gostei. Talvez porque a narrativa é escrita seguindo a linha de pensamento de Henry e com isso, ora se queda em contemplações descritivas (mas nada ao género das vitorianas tipo Jungle Book ou Frankenstein), ora salta em catadupa, de palavra em palavra (do género: ... and ... and ... and ... and ... and ...), conforme o estado de espírito do narrador.
Outra coisa que me irritou profundamente foi que, quando a felicidade parece ao alcance das personagens, as coisas dão para o torto amargamente.
Eu sei que a vida tem muitas coisas más e não é para brincadeiras mas Hemingway tem tanto trabalho a fazer com que o leitor goste das personagens e no fim acaba com elas.
Enfim, com este livro não estranho nada o suicídio de Hemingway.

16 de fevereiro de 2011

Copos, Balas & Gajas

Esta nova edição da série Sin City, editada pela Devir, junta várias pequenas histórias num só volume.
Desta vez, Frank Miller usa apontamentos de cor, ao estilo de Aquele Sacana Amarelo, no meio do grafismo preto e branco já habitual. Devo dizer que dos 6 livros já editados este é o que gosto menos. Não quero dizer com isto que é mau. Apenas não é tão bom como os outros... O Marv continua a minha personagem favorita: tanto na Mais Uma Noite de Sábado como na Noite Silenciosa o bruto faz de cavaleiro andante improvável, lutando pelos pobres e desprotegido, como só ele sabe fazer: a doer.
As histórias Fat Man e Little Boy, Ratos e A Menina do Papá, para mim, são as mais fraquinhas. Servem para dar mais "cor" ao universo de Basin City.
O resto é ao nível do que se espera do Frank Miller (ao todo são 11 histórias). Só um último apontamento: uma das histórias - O Cliente Tem Sempre Razão - é o início do filme... Gosto muito ;)

Valores Familiares

Neste Valores Familiares, Frank Miller mostra tudo aquilo que vale,  mantendo o grafismo de alto contraste a preto e branco, fiel as suas origens film noir. A história tem o ritmo pautado pela escalada de violência, que me levou a virar as páginas cada vez mais depressa... Desta feita as personagens principais são Dwight e Miho, que seguem numa senda assassina de vingança... Mas o que é engraçado é que o bruiser praticamente não faz mais que ir explicando a história enquanto a Miho corta tudo às postas... literalmente.
A delicada e oriental Miho, que se desloca em cima de uns patins como se flutuasse, aparece em cena para concretizar aquilo que Dwight vai calmamente prometendo aos infelizes que lhes vão passando pelas mãos...
Enfim, mais um capítulo da saga Sin City, ao nível de todos os outros e que eu recomendo a toda a gente.

15 de fevereiro de 2011

A Sangue Frio

No passado dia 1 acabei este A Sangue Frio de Truman Capote. Supostamente, é o primeiro livro do género Não Ficção e o primeiro de True Crime, mas há quem discorde... Confusões à parte, o que é certo é que este livro é uma obra prima. Aquilo que começa por ser uma crónica massuda de uma família do interior dos Estado Unidos e de dois bandidos de pé de chinelo acaba por se revelar uma profunda reflexão sobre a violência nos Estados Unidos e no ser humano em geral... Se no início não há qualquer dúvida de que o crime foi bárbaro e hediondo e que os assassinos deviam ser pendurados pelo pescoço (como foram), no fim a sensação que fica é que todos são vítimas: a família Clutter e os assassinos, Perry Smith e Richard Hickock.
Capote, após 8000 páginas de notas e quase 6 anos de investigação, consegue fazer com que toda narrativa "salte" cá para fora, desenrolando-se na imaginação do leitor como se este tivesse presenciado os acontecimentos. E no fim não consegui deixar de me sentir culpado pelos acontecimentos de Holcomb...
A tradução da D. Quixote está muito boa e consegue manter todo o ritmo que Capote imprimiu ao seu original. Um livro fantástico que recomendo a toda a gente!


12 de fevereiro de 2011

O Terceiro Reich


Hoje, pelas duas da manhã, acabei O Terceiro Reich.
O livro, de Roberto Bolaño (escritor  e poeta Chileno radicado em Barcelona), com edição póstuma (ao que parece, 2 manuscritos apareceram nos seus papeis, depois da sua morte em 2003), conta a história de um jovem, Udo Berger, campeão alemão de um jogo de estratégia de tabuleiro, chamado Terceiro Reich, que parte para o sul de Espanha, perto de Barcelona, para passar as suas primeiras férias a sós com a namorada, Ingeborg.
As coisas começam a desenrolar-se de uma forma banal (diria até aborrecida): hotel, praia e discoteca, versão alemã...
Mas há medida que a narrativa se desenrola, sob a forma de um diário de férias, e novas personagens vão sendo introduzidas (um casal de alemães com que Ingeborg se começa a relacionar para desespero de Udo, uma dona de hotel chamada Frau Else, um sul americano a quem chamam Queimado, entre outras), no meio dos pesadelos de Udo e do seu jogo, algo de muito estranho se desenrola e cresce como um monstro dentro de quem lê... Bolaño trocou-me as voltas vezes sem conta levando-me a pensar primeiro que o livro era fantástico, depois policial, mais tarde místico e no fim, ficou apenas a sessão muito forte de que o livro trata de algo muito importante que ficou ligeiramente fora da minha compreensão...
O resultado foi uma noite mal dormida com o meu cérebro a remoer, perdido nos sonhos mais estranhos... Sem dúvida algo que o próprio Bolaño iria gostar...
Para breve estará a leitura do 2666 (1100 páginas - muito pouco portátil) a sua obra prima e mais tarde irei reler este Terceiro Reich para o arrumar melhor na minha cabeça...
Aconselho-o a toda a gente e aviso que a partir das 30 páginas é impossível parar...

Primeira Posta

Caros Amigos,

decidi criar este Blog para partilhar convosco os meus livros. Vou tentar "postar" os que acabei de ler e outros que li há mais tempo. O mais certo é rele-los para os por aqui com impressões fresquinhas. :)

Aqui vou escrever as minhas reflexões sobre o texto, para quando for mais velho e estiver gaga poder dizer a mim mesmo que já li este ou aquele livro... Por favor comentem os posts, digam de vossa justiça!

Ficarei muito feliz se lerem um livro por causa daquilo que escrevi.

PS - Os vossos comentários serão revistos por mim, antes de aparecerem, por causa dos spamers e dos ordinarões. Tirando isso, não há censura!!!