25 de julho de 2013

The Book of Five Rings

Miyamoto Musashi foi um dos maiores espadachins da história, senão mesmo o maior. Oitenta duelos individuais, sem uma única derrota, o primeiro aos treze anos e o último por volta dos trinta anos, e seis batalhas, atestam bem as suas capacidades com a espada e como estratega. No final da sua vida, recolheu-se numa caverna e ditou este livro, o manual para a sua escola, Niten Ichi-ryú (Escola da Estratégia dos Dois Céus como Um, aproximadamente), que se destacava das outras em voga pelo uso de duas espadas (a katana e o wakizashi) em simultâneo ou, como outros estudiosos afirmam, estar pronto a usar as duas espadas, em qualquer mão.
Muito mais sobre a conduta a usar perante um combate ou confronto (e para Musashi, perante a vida) do que propriamente as instruções de como usar correctamente uma katana (essas instruções foram passadas para os seus discípulos), Go Rin No Sho, um manual de artes marciais Zen, tornou-se um livro indispensável para todos os gestores de topo que queiram aprofundar os seus conhecimentos em conflitos humanos.
Esta edição em particular está ilustrada com pinturas, caligrafias, katanas e outras coisas, de rara beleza.
Recomendo qualquer pessoa que tenha o mínimo interesse pelo Japão a ler.

4 de junho de 2013

De Profundis, Valsa Lenta

José Cardoso Pires é um nome maior das letras portuguesas e este pequeno livro é a prova disso mesmo. Cardoso Pires sofre um acidente vascular cerebral e tem aquilo que ele próprio chamou de "morte branca". Passado dois anos surge esta pérola com a descrição dessa mesma situação. Cardoso Pires ficou vivo mas não propriamente cá. As coisas passavam por ele como num sonho muito branco e brilhante. Objectos normais perderam o seu significado (foi apanhado várias vezes a pentear o cabelo com a escova dos dentes) e as pessoas queridas e próximas perderam-se na desmemória. As palavras saiam ininteligíveis, a escrita uns rabiscos. Tudo apontava, não para a morte, mas para o desaparecimento de uma grande mente.
O texto é fantástico, muito bem escrito (não se podia esperar menos) mas o mais importante é o facto de Cardoso Pires ter recuperado de uma condição que, normalmente, deixa uma pessoa vegetativa. Como diz outro Cardoso Pires, o médico, que faz o prefácio, o autor teve muita sorte, por um lado, e a zona afectada era mais "musculada" que no comum dos mortais, por outro. Também muito importante foi o facto de uma pessoa com o dom da palavra e da escrita conseguir recuperar o suficiente para este canto de cisne (foi o último trabalho de Cardoso Pires). Manuel Damásio, proeminente médico neuro-psiquiatra, referiu a importância desta pequena obra para o estudo dos mistérios do cérebro na medida em que Cardoso Pires não podia ser mais eloquente.
Lê-se de um fôlego e eu não podia deixar de recomendar.

A Dance With Dragons

Desculpem lá, mas estou farto! Martin tem tantas pontas soltas que não sabe para onde se virar. Não vejo o fim em mais dois volumes. As personagens estão cada vez mais embrulhadas no enredo sem um fim à vista. Algumas nem são faladas (por exemplo o que passa com Rickon? Nem uma linha num volume de novecentas páginas?). O texto continua a ser muito bem escrito, sem qualquer dúvida, mas a novidade (apesar de ter sido a primeira vez que li este volume) foi-se. Os únicos momentos em que fui realmente surpreendido foi quando Martin mata uma das personagens principais, quase mesmo no fim do livro, só para o leitor ter uma razão para comprar o próximo volume. Esta série está-me a fazer lembrar o Eragon, que começou de forma excelente e que a meio do terceiro volume (que devia ser o último) começa a engonhar, a engonhar, até que no fim aparece "continua no próximo volume". Talvez aqui no A Dance With Dragons seja ao contrário: no início é a engonhar, a engonhar e no fim tudo acontece de repente. Na altura em que estamos interessados, aparece "Epílogo".
Quanto à história, as coisas vão avançando com maus a ficarem bons, bons a ficarem maus e as personagens que mais gostamos a morrerem... Não foi assim que começou? Cinco volumes de novecentas páginas para a Daenerys voar o Drogon? Esqueçam lá isso e leiam a saga de Earthsea, da Ursula Le Guin, ou o Elric de Melniboné, do Michael Moorcock.

3 de junho de 2013

A Feast For Crows

Quando Martin começou a escrever este livro tinha ideia em acabar a série em cinco volumes mas a história alongou-se, fazendo com que o conteúdo de A Feast For Crows, seja acompanhado por A Dance With Dragons, cujas histórias correm em paralelo, com um conjunto de personagens diferentes para cada livro.
O livro sofre com a ambição desmedida de Martin. Com o número de personagens e eventos que se sucedem em catadupa, o texto começa a arrastar-se e a perder aquele ritmo alucinante dos primeiros volumes. Não que o texto seja mal elaborado, antes pelo contrário. Não é no ritmo da escrita que está o pecado mas sim no ritmo da história, que se arrasta penosamente.
Cersei tem finalmente o poder absoluto mas a arte da intriga é muito diferente da arte de governar e o seu poder escapa-lhe como areia das suas mãos. Para piorar as coisas, após alguns desentendimentos, envia o irmão Jaime para resolver os problemas nas Riverlands, último bastião de apoio a Robb Stark. Especial atenção neste livro têm Dorne e as Iron Islands, com as respectivas famílias líder a tentarem chegar a Daenerys, considerada por alguns a legítima herdeira do Iron Throne.
Enfim, para mim a série está a perder qualidades e não aguenta muito bem ser lida segunda vez (ao contrário do Tolkien, da Ursula Le Guin ou do Michael Moorcock), mas vamos lá ver como sai o próximo.

30 de maio de 2013

A Storm of Swords

A Guerra dos Cinco Reis continua em força e Catelyn Stark comete uma traição terrível por amor às filhas, que julga estarem em posse de Cersei Lannister, em Kings Landing. Por causa desta traição, Robb Stark perde o apoio de alguns dos seus aliados, ficando numa posição ainda mais delicada. Para cúmulo, anuncia que se casou com Jeyne Westerling, quebrando o pacto que tinha com os Frey, no qual Robb comprometera-se a casar com a filha de Walder Frey, Senhor das Gémeas, duas fortificações iguais em cada lado do Rio Tridente. Entretanto os Greyjoy conseguem conquistar o Norte e Winterfell.
Arya Stark encontra-se com a Brotherhood Without Banners, chefiadas por Lord Beric Dondarrion, que tinha sido enviado por Ned Stark para acabar com a pilhagem Lannister nas terras do Tridente. Após algumas aventura, Sandor Clegane, o Cão, rapta Arya para tentar entregá-la à sua mãe, em troca de um resgate. Quando chegam ao seu destino, as Gémeas, o bastião da família Frey, algo está a correr muito mal. O Cão sente o cheiro a sangue e salva Arya, contra sua vontade, de um destino terrível. O Cão fere-se num combate e Arya abandona-o à sua sorte seguindo depois para a cidade de Braavos onde procura tornar-se uma Assassina Sem Cara.
Entretanto, em King's Landing, no rescaldo da Batalha do Blackwater, Joffrey desfaz o seu noivado com Sansa Stark para se casar com Margery Tyrell, cujo Pai salvou a cidade da fúria de Stannis Baratheon que, depois da derrota, volta com o rabo entre as pernas para Dragonstone, a sua praça forte.
No casamento Joffrey morre envenenado e Cersei acusa seu irmão Tyrion de ter assassinado o sobrinho. As coisas estão muito más para Tyrion, com Cersei a arranjar testemunhas de acusação em cada esquina. Mais uma vez Tyrion pede um julgamento por combate que o seu campeão, o Príncipe Oberyn Martell de Dorne, quase que vence, mas no fim, quando Tyrion parece condenado, seu irmão Jaime, que nunca acreditou na culpa de Tyrion, liberta-o com a ajuda de Varys, o Senhor das Aranhas, nome dado ao chefe da espionagem do Rei.
Muito mais se passa no mundo, principalmente na Muralha, onde John Snow mete-se em grandes alhadas com os Wildlings e acaba Lord of The Night Watch.
O epílogo do livro reserva uma grande surpresa...

7 de março de 2013

A Clash of Kings

Acabei o segundo volume da saga A Song of Fire and Ice de George R. R. Martin, A Clash of Kings e devo dizer que há uma melhoria em relação ao primeiro livro. Cada vez há mais personagens a interagirem umas com as outras e as decisões que são tomadas afetam todo o mundo de Westeros. Quando o Rei Robert morre, problemas de sucessão se levantam, o que lança os Sete Reinos na guerra civil. Reis aparecem como cogumelos, tentando assegurar o Iron Throne. Joffrey Baratheon, Stannis Baratheon e Renly Baratheon, filho mais velho, irmão mais velho e irmão mais novo, respetivamente, do falecido Rei, reclamam o trono pelas suas, supostas, ligações familiares ao defunto, Robert Stark proclama-se Rei do Norte devido aos maus tratos a que o seu Pai foi submetido pelo Rei Joffrey, Balon Greyjoy proclama-se Rei das Iron Islands e ataca toda a costa Oeste do Norte.
Entretanto, na muralha, os Wildlings (humanos que se dizem livres e que vivem a Norte da muralha) estão a juntar-se sob o comando de um único homem, Mance Rayder, que se intitula Rei-para-além-da-muralha, com o objetivo de invadir o Sul, para fugir aos Others, que, definitivamente, não são humanos. John Snow é obrigado a escolhas muito difíceis, o que faz com que ele fique ainda mais maduro.
No Este, Daenerys Targaryen, após muitas peripécias, muito sofrimento e muito sacrifício, consegue chocar três ovos de dragão e começa a sua viagem com o objetivo de reconquistar Westeros.
Aria Stark, filha mais nova de Ed Stark, após ver o pai ser decapitado, tenta fugir para Norte, procurando a sua mãe, o que não vai ser nada fácil. O seu irmão, Rob Stark, o Rei do Norte para os seus vassalos, vence várias batalhas no terreno aos Lannisters. Tyrion Lannister é enviado como mão do Rei por seu pai, Tywin Lannister, para ajudar o seu sobrinho Joffrey a reinar (no fundo reinar por ele) e, apesar da oposição de Cersei, sua irmã e Rainha Regente, consegue defender a capital, Kings Landing, e destruir a frota de Stannis Baratheon, sofrendo grandes ferimentos.
Como podem ver há muito para ler e muito mais vem a caminho. A ler!

12 de janeiro de 2013

A Game of Thrones

Acabei de ler, pela segunda vez, este Game of Thrones, da série de fantasia Song of Fire and Ice, de George R. R. Martin. Desta vez fi-lo em inglês e ainda bem que o fiz porque o texto é muito melhor. A tradução portuguesa está muito bem escrita (o português é de qualidade, o ritmo de leitura muito rápido e próximo do original) mas desvia-se em estilo, uma vez que o original usa alguns termos ingleses mais arcaicos que dão um certo glamour ao texto (por exemplo: em vez de escrever "I'm going to eat my breakfast" Martin escreve "I'm going to break my fast").
Martin cria um elenco enorme de personagens, todas elas credíveis e interessantes, usando um estilo de escrita que eu chamo "à lá Dan Brown" ou seja, pequenos capítulos, que contam a história através dos olhos de uma só personagem, com personagens distantes fisicamente, deixando o acção em suspense no fim do capítulo, fazendo com que o leitor devore o livro.
A saga segue a família Stark de Winterfell pelo reino de Westeros e mais algumas personagens com importância, por outras partes do mundo.
O pai, Eddard Stark, Senhor de Winterfell (equivalente a um conde, com um largo domínio sob as suas ordens mas vassalo de um rei), a mãe, Catelyn Tully, filha mais velha do Senhor Hoster Tully de Riverrun, os filhos Robb, Bran e Rickon, as filhas Sansa e Aria, e o filho bastardo de "Ned" Stark, John Snow vêem, literalmente, a vida a andar para trás quando o Rei, Robert Baratheon (que, poucos anos antes depôs Aerys II Targaryen, porque o seu filho,  Príncipe Rhaegar Targaryen, raptou a irmã de "Ned", Lyanna, que estava prometida a Robert), "convida" "Ned" para ser a Mão do Rei (aquele que governa quando o Rei, por alguma razão, não o pode fazer. Como Robert preferia caçar e beber, a Mão do Rei, efectivamente, Reina). Eddard tenta recusar a grande honra mas no fim Robert é Rei e "Ned" aceita. A partir daqui os Starks confrontam-se com as intrigas e jogos de corte entre várias Casas e alguns opositores singulares, correndo, todos os Starks, perigo de vida.
Duas personagens importantes do próximo livro, Daenerys Targaryen e John Snow, começam a crescer neste Game of Thrones, mas irei dar conta delas noutro livro.
E o mais impressionante é que, para um livro de fantasia, só há sugestões da mesma. Dragões e mortos vivos são lendas de um passado não muito distante (cerca de cento e cinquenta anos) e aquilo que nos prende à história são os jogos de corte que não são tão fantasistas assim.
Pouca fantasia é melhor do que esta.

16 de dezembro de 2012

One Flew Over the Cuckoo's Nest

É sempre difícil ler um livro que deu origem a um filme da minha preferência. Voando Sobre um Ninho de Cucos é um dos melhores filmes para se sentir o pulso dos anos sessenta (a par com o Easy Rider ou o Woodstock) e quais as mudanças que eram necessárias operar nas mentalidades. Sempre adorei o filme e a interpretação de Jack Nicholson, mas tenho que admitir que o livro é muito superior.
Chief Bromden, o índio, supostamente, surdo mudo, narra a história pelo meio das suas alucinações (Bromden é, definitivamente, esquizofrénico), contando como McMurphy vai perturbando as maquinações da Combine (entidade que, na cabeça Bromden, controla toda a humanidade, através de máquinas e seres já alterados, como a enfermeira Ratched) através do seu confronto com a rotina do hospital. McMurphy acredita que o seu tempo encarcerado será mais fácil num hospital psiquiátrico do que num campo de trabalhos forçados mas rapidamente começa a mudar de ideias, principalmente quando descobre que pode ficar internado indefinidamente. Aos poucos o seu espírito livre e indomável entra em rota de colisão com a enfermeira Ratched, que no fundo representa o sistema em que estamos inseridos, e, aos poucos, vai desafiando-a e opondo-se, como pode, ao esquema de humilhação e domínio que o hospital, e em particular Ratched, impõe aos pacientes.
No fim, McMurphy tanto perde como ganha o confronto, numa das mais belas histórias sobre o que é que nos faz realmente livres.

23 de novembro de 2012

The Electric Kool-Aid Acid Test

Tom Wolfe decidiu sair de Nova York e ir até São Francisco para saber exatamente o que andavam a preparar os Merry Pranksters, uma comuna artística psicadélica, cujo o guru era Ken Kesey.
Ken ganhou uma bolsa para um curso de pós graduação em escrita criativa, foi um desportista quase olímpico (uma lesão no ombro impediu-o de ir aos Jogos) e decidiu fazer parte do projeto da C.I.A., MKUltra, em que os voluntários eram expostos às mais mais variadas drogas psicadélicas (L.S.D., D.M.T., etc) por forma a estudar os efeitos das mesmas no ser humano. Apesar da C.I.A. ter como objetivo fazer o Super Soldado (seguindo a ideia alemã), os resultados foram fracos nesse campo, mas serviram bem a C.I.A. na elaboração do seu manual de interrogatório/tortura. Já a Ken, as drogas psicadélicas, serviram para abrir o espírito de tal maneira que este decide arranjar um part time no turno noturno de uma instituição psiquiátrica para observar os pacientes e ter acesso à reserva de L.S.D. do hospital. Desta "visita de estudo" surge a obra prima, Voando Sobre um Ninho de Cucos, (irei falar dele proximamente), que catapulta o jovem Kesey para o estrelato. Kesey compra então uma quinta em La Honda, perto de São Francisco, onde se começam a juntar os seus amigos e mais alguns desconhecidos, formando uma comuna ad hoc em que as pessoas eram encorajadas a expandir a sua mente, especialmente com o uso de L.S.D. O livro também descreve as duas viagens de autocarro (o Further) a Nova York e ao México com Neal Cassady, herói da Beat Generation, ao volante.
Tom Wolfe é um grande artista porque consegue com a sua escrita toda a loucura e desconexão de uma trip de ácido, mas ao mesmo tempo manter o leitor na história através de um fio condutor que deve tudo ao jornalismo, como uma crónica dos eventos de um manicómio. A escrita de Tom Wolfe faz-me lembrar o Gonzo Journalism de um contemporâneo seu, Hunter S. Thompson. Um grande livro em que mostra a ascensão e queda do movimento hippie, vista por dentro.

8 de novembro de 2012

Kindle

Este post é um bocadinho diferente dos outros. Adquiri um Kindle da Amazon e, apesar de achar que nada substitui o cheiro da cola de um livro novo, estou rendido! Que aparelho fantástico! Do tamanho de um livro de bolso (dos ingleses) e mais leve que a grande maioria (apenas cento e setenta gramas!!!) é muito fácil usar o Kindle em uma só mão. Com os botões de mudança de página convenientemente localizados para serem acedidos com os polegares (tanto para destros como para canhotos) até em andamento é fácil de usar.
Mas o mais importante é o écran E-Ink Pearl. Nunca vi nada tão parecido com o papel. Apesar de achar que não aguento oito horas a ler o Kindle como aguento a ler um livro, o cansaço é mínimo e a fonte totalmente escalável o que permite pessoas com dificuldades de leitura encontrar o tamanho de letra adequado.
Por último, qualquer título que esteja em PDF pode ser lido no Kindle. Basta enviar um E-mail para um endereço específico, oferecido pela Amazon, com o PDF como anexo. Quando o PDF estiver convertido para o formato Kindle, este é enviado automaticamente para o nosso aparelho, se este estiver ao pé de um spot Wi-Fi. O Kindle também permite trocar de livros entre os que estão no aparelho e os que estão no espaço na Nuvem oferecido pela Amazon sem qualquer problema, aumentando efetivamente o número máximo de livros que se podem transportar (que só no Kindle são cerca de 1400).
Resumindo: uma ótima prenda de natal para uma pessoa que gosta de ler em qualquer lado, como eu.